O perfil de nossos alunos na capital, varia entre crianças vindas dos grandes centros e realidade mais abastada, até aqueles que vêm de famílias mais carentes, cujos pais lutam para colocar um prato de comida todos os dias na mesa e, por vezes, nem conseguem. Desta forma, uma das razões que motiva muitas crianças a irem para a escola, além de tentar conseguir um futuro mais com melhor oportunidades, é ter uma refeição a mais em seu dia.
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Fato é que, se fosse a lei federal que obriga às famílias a matricularem seus filhos e garantir que eles frequentem as escolas e a lei contra o trabalho infantil, muitos dos pais optariam por manter seus filhos em alguma função que lhes trouxessem um retorno monetário mais imediata, como vigiar carros nos estacionamentos, pedindo esmola no semáforo ou talvez auxiliando em alguma tarefa ou no trabalho dos pais.
Em minha formação, fiz meus últimos dias de estágio na Escola Municipal Estevão Castro, localizada na região sul de Palmas. Lecionei para crianças entre 4 até 12 anos, buscando ser uma presença convicta e firme, enquanto professor, mas ao mesmo tempo que inspirasse confiança aos meus alunos. Entretanto, eu não estava preparado para o que aconteceria em uma manhã de terça-feira, fui ministrar aula de matemática a uma turma do 1o ano do ensino fundamental, enquanto explicava como se realizava uma divisão de número simples, notei uma aluna (possivelmente tinha entre 6 e 7 anos), cabisbaixa em um canto da sala.
Não era incomum, no turno matutino, alguns alunos ainda estarem sonolentos e cansados. Para alunos assim, eu costumava fazer uma brincadeira que minha avó fazia comigo e, provavelmente, você também já deve ter ouvido: “Reaja, minha filha, parece até que não comeu feijão hoje!”. A resposta da menina me partiu o coração: “Eu não comi nada, tio. Tô com fome”.
Olhei novamente para a menina e notei algo que não havia reparado antes, a aparência da menina mostrava que sua origem era bastante humilde e precária, suas roupas ainda estavam sujas, possivelmente do dia anterior, já que ainda estava no primeiro horário de aula, seus pés e chinelos, um pouco sujos e gastos, o olhar da jovem aluna era abatido e triste. Pouco tempo depois conheci seus pais, realmente a família era bem simples e humilde, o pai trabalhava vendendo recicláveis e a mãe ajudava como podia com pequenos trabalhos domésticos, mas ainda assim, conseguiam manter sua pequena filha na escola, com esperança de dias melhores para ela.
Depois da resposta da criança, eu passei a verificar constantemente o relógio da sala, na esperança de que chegasse logo o horário do lanche, acredito que ela já estivesse nessa expectativa, então acabei me unindo a ela nisso. Graças a Deus, naquele dia ela lanchou bastante, o que tirou momentaneamente um peso que recai todos os dias sobre nós, adultos e profissionais da educação, famílias e responsáveis por essas crianças. Eu estava tão preocupado com a matemática, que não percebi uma barriga roncando, será que não estamos todos assim?
Convido os órgãos públicos, famílias e profissionais a repensarmos nossas prioridades e cuidarmos com mais carinho e respeito das famílias e crianças palmenses.