Especialistas da área de psiquiatria, como o Dr. Lucas Spanemberg, pesquisador do Instituto do Cérebro na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, explicam que a base do vício em jogos reside em um mecanismo cerebral fundamental: o sistema de recompensa. Segundo Spanemberg, “atividades prazerosas liberam dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de prazer e recompensa, mas as apostas despejam dopamina em uma escala muito maior, tornando o comportamento viciante.”
O problema se estende além do sistema límbico. Estudos realizados por Vinícius Andrade, médico do Ambulatório de Transtornos de Impulso da Universidade de São Paulo, mostram que indivíduos com transtorno do jogo apresentam redução na conectividade de áreas como o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões e resolução de problemas. “Isso compromete a capacidade do indivíduo de fazer escolhas racionais, aumentando o risco de decisões impulsivas e prejudiciais,” afirma Andrade.
Globalmente, a prevalência deste transtorno varia, com estimativas indicando que entre 0,4% e 2% da população podem ser afetados, dependendo da região e do acesso aos jogos de azar, conforme revisão de artigos na revista “Nature Reviews”.
Tem tratamento?
O tratamento para a ludopatia envolve abordagens multifacetadas, incluindo terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, intervenções farmacológicas. Grupos de apoio como os Jogadores Anônimos também desempenham um papel crucial na recuperação.
Diante da crescente acessibilidade das apostas online, profissionais da saúde alertam para a necessidade de políticas públicas que fortaleçam o apoio e tratamento para indivíduos afetados por este transtorno. “A facilidade de acessar jogos online aumenta significativamente a exposição ao risco, ampliando a demanda por serviços de saúde mental especializados,” conclui Tavares.