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A escalada sem trégua do preço dos combustíveis pode levar a taxa de inflação a fechar o ano em dois dígitos, alertam especialistas. Isso porque, com a alta global dos preços do petróleo, tudo indica que diesel e gasolina voltarão a subir nos próximos meses.
Entre janeiro e setembro, segundo o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula alta de 6,9%. A previsão do mercado para o fim de 2021, conforme mostrou nesta segunda o Boletim Focus, do Banco Central, subiu de 8,69% na semana passada para 8,96% hoje.
Como os combustíveis têm sido um dos vilões da inflação, o índice oficial pode chegar em dezembro acima dos 10% se gasolina e diesel continuarem subindo, dizem analistas.
Nesta segunda-feira, a Petrobras anunciou um novo reajuste. A gasolina vai subir 7% nas refinarias, e o diesel, 9% a partir de terça-feira. No ano, a gasolina acumula alta de 73% , e o diesel, de 65,3%.
Os aumentos devem continuar porque, além da desvalorização do real e do ambiente de instabilidade fiscal e político no país, a retomada da economia mundial tem tornado a demanda por petróleo maior do que a oferta, o que eleva o preço do barril — o tipo Brent chegou a US$ 86,35 nesta segunda.
Como o transporte influencia os custos de praticamente todos os setores da economia, a difusão do efeito da alta dos combustíveis nos outros preços é rápida.
“A gasolina vai pressionar a inflação para além dos 10%. É difícil prever preço do petróleo e o dólar. Mas, dada a defasagem entre os preços praticados aqui e no mercado internacional, espera-se novas altas”, avalia o economista e professor dos MBAs da FGV Mauro Rochlin.
O centro da meta de inflação , em 2021, é de 3,75%, podendo variar entre 2,25% e 5,25%. As projeções do mercado já estão bem acima do teto de tolerância da meta, que o BC admite que não vai conseguir cumprir.
“Acho bastante provável que, até dezembro, tenha nova alta, podendo chegar inflação de dois dígitos. O combustível tem mais chances de impactar o IPCA do que a alta da luz, que já está prevista para os próximos dois meses”, acrescenta Rochlin.
Efeito dobrado
A pressão dos combustíveis na inflação é sentida em dobro, pois pesa não apenas na hora de encher o tanque, mas também nos produtos e serviços pagos, como frete, passagens e alimentos.
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Por exemplo: um restaurante paga mais pela carne, cujo IPCA está acumulado em 8,52% no ano. Também paga mais pela luz e pelo combustível que faz a entrega.
“O combustível é estratégico porque entra na composição de vários outros produtos. O óleo diesel impacta no transporte, no abastecimento. O custo de uma infinidade de produtos acaba sendo afetado. Não é só transporte”, explica Rochlin.
Barril não para de subir
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, também estima que a inflação pode ficar entre 9,5% e 10% sob influência dos combustíveis, cuja dinâmica ele acompanha:
“O preço do barril do petróleo está subindo muito, tem ainda a crise hídrica, o preço da luz e do gás natural. O segundo vilão é o câmbio que depreciou muito o real. Isso está fazendo com que a Petrobras tenha que aumentar os preços com frequência. E deve continuar porque a economia está aquecendo a demanda é maior do que a oferta. O câmbio também não vai mudar muito com estas crises acontecendo, como a do teto.”
Gás de cozinha alto prejudica os mais pobres
Para Pires, em meio a todas estas pressões, os preços do botijão de gás, gasolina e diesel vão ficar ainda mais vulneráveis em 2022, ano eleitoral. O gás de cozinha penaliza particularmente os mais pobres, que gastam proporcionalmente parcela maior de sua renda com esse item essencial.
Impacto na inflação de novembro
O coordenador de índices de preços do Ibre/FGV, André Braz, acredita que o aumento desta segunda-feira deve ser sentido em novembro. Ele elevou sua projeção de inflação para o ano e não descarta novos aumentos:
“No IPCA, a gasolina pesa 6%. Então, em novembro, a gasolina deve impactar a inflação em 0.18 ponto percentual, aproximadamente. Para o mês que vem, a minha estimativa estava em torno de 9,2%. Agora estou colocando em torno de 9,4%, está se aproximando de 9,5%, isso sem contar com outros reajustes dos combustíveis que podem acontecer até o fim do ano.”
Ele completa:
“Porque o preço do barril está subindo, respondendo ao aquecimento da economia mundial e a nossa moeda segue desvalorizada pela instabilidade no ambiente fiscal e político no Brasil.”
O aumento para o consumidor final é diferente porque ainda incidem o lucro das distribuidoras em impostos. Braz acredita que deve ficar em torno de 3%.
Na semana passada, o preço médio da gasolina estava R$ 6,36 o litro, segundo a Agência Nacional do Petróleo. Mas não é raro encontrar por mais de R$ 7.