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Conscientizar sobre o perigo de beber e dirigir é parte do trabalho que a influencer, modelo e Miss Cadeirante Universo 2017 Kallyna Sampaio, 28, faz. A história de Kaká, como é conhecida, mudou radicalmente no dia 12 de setembro de 2015. Ela voltava de uma cidade vizinha a Brasília, onde mora, e dormia no banco traseiro do carro quando sofreu um acidente que a deixou tetraplégica.
“A gente tinha bebido um pouco e o meu amigo estava dirigindo. Ele acabou dormindo no volante e caindo em um barranco. Ele teve um ‘chicote’ na cabeça, acabou fraturando o pescoço e morreu na hora, eu fiquei tetraplégica. Ali começava a minha luta”, conta.
O acidente foi uma virada de chave na vida de Kaká. A modelo diz que o começo foi muito difícil e que pela mudança brusca, chegou a entrar em depressão. “Eu estava muito triste, achava que ia andar a qualquer momento e que não precisava me acostumar com a cadeira. Na minha cabeça era tudo passageiro, eu ia voltar a andar e ia me curar, vivia em função disso”, diz.
Kaká explica que essa força de vontade para conseguir andar novamente acabou a motivando para fazer várias ações e reunir pessoas que a ajudassem. “Hoje eu olho para trás e vejo como esse período era necessário, porque eu precisava me expressar de alguma forma daquilo que estava doendo”, afirma. “Eu precisei passar por um período muito forte de dor, de altos e baixos para poder encontrar o equilíbrio”.
Para lidar melhor com a situação e também alertar sobre os riscos de beber e dirigir, Kaká começou a dar palestras e falar sobre o tema. Ela fala sobre o acidente e vai adaptando sua mensagem de acordo com o público. “Se é com adultos, geralmente falo sobre beber e dirigir. Se forem crianças, tento levar para o tema: ‘olha, a pessoa com deficiência também tem uma vida. Depois do acidente ela consegue lutar e vencer'”, ressalta. Em suas redes sociais, ela fala sobre seu dia-a-dia como deficiente e sobre acessibilidade.
Miss Cadeirante Universo
Dois anos depois do acidente, em 2017, Kaká foi vencedora da primeira edição do concurso Miss Cadeirante Universo, que aconteceu no Distrito Federal. Ela é a única brasileira com o título. “Eu falei: ‘essa é a minha oportunidade de ressignificar a cadeira de rodas, tentar ver de uma forma diferente e usar ela a meu favor, não só para mim’. Eu não acreditava que ia ganhar. Foi uma das melhores sensações que eu tive na minha vida”, diz.
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A oportunidade foi boa, mas Kaká conta que a organização não era feita por pessoas deficientes, o que tornava algumas situações complicadas no decorrer do concurso. “Milhares de pessoas desistiram no caminho. Não tinha acessibilidade, não tinha banheiro. Os bastidores foram muito tensos, às vezes não tinha como entrar e a gente tinha que ser carregado. Minha mãe fala que a gente enfrentou tudo isso para poder chegar no final e colher esses frutos, que realmente foram muito bons”, diz ela.
Após ser coroada Miss Cadeirante Universo, Kaká viajou e foi contratada por diversas empresas para falar sobre a história. A acessibilidade já é uma questão recorrente no dia-a-dia da Miss, mas em viagens isso se torna ainda maior. Em estabelecimentos, ela cobra sobre a falta de rampas de acesso e banheiros acessíveis. A Miss diz que uma das pautas que mais aborda é o cateterismo, que anda de mãos dadas com a acessibilidade.
“Eu preciso de um banheiro acessível, passar por um cateterismo para poder urinar. É preciso passar uma sonda, não é simplesmente ‘estou em um lugar e dá para ir no banheiro’. Não é assim que funciona”, conta. Kaká é atendida pelo programa Coloplast Ativa, que auxilia no uso de cateteres urinários. O projeto é gratuito e também oferece suportes de enfermeiras estomaterapeutas, psicólogas, nutricionistas e fisioterapeutas para o deficiente que queira auxílio.
“A gente que é deficiente tem muita necessidade de trocar informação. Por exemplo, como eu me viro na cadeira, como eu faço xixi. No começo levava vinte, trinta minutos para fazer a sonda. A gente precisa de coisas que facilitem mais a nossa vida e o cateter é uma dessas coisas. A gente precisa de pessoas que tenham um olhar diferente para a pessoa com deficiência e fabriquem coisas que agilizem a nossa vida. É extremamente importante para você que está aí do outro lado ter esse tipo de orientação. O programa tira essas dúvidas e é necessário”, afirma.
Kaká ressalta que essa troca de informação entre pessoas não-deficientes é muito importante para saber como realmente ajudar. “Escutar mais o que a gente está tentando falar, ficar curioso e quer entender mais, não passar por cima da nossa voz… É extremamente importante a gente ter empatia com a outra pessoa. Procure ser diferente, não só com um olhar de compaixão, mas de mais atenção para as outras pessoas.”