A violência contra mulheres voltou a chocar o Tocantins com histórias de dor, luto e a luta por justiça. O assassinato de Marcilene Alcântara, de 23 anos, e o desaparecimento de Míria Mendes Sousa Lima, de 19 anos, ilustram a gravidade de uma realidade que ainda ceifa vidas e destrói famílias no estado.
Marcilene foi morta a facadas pelo ex-companheiro Diego Castro, de 36 anos, em um bar de Araguacema, cinco meses após o fim do relacionamento. Segundo relatos da irmã, Marcileide Alcântara, a jovem vinha recebendo ameaças e sofria violência física antes da separação.
“Quando ela abriu os olhos para quem ele realmente era, já era tarde. Ela confessou para a família que sofria agressões”, relatou a irmã.
A jovem, que havia direcionado sua vida para novos sonhos, deixou um filho de três anos. Testemunhas disseram que no dia do crime, Marcilene estava especialmente feliz, como se fosse uma despedida.
Diego Castro foi preso em flagrante e aguarda julgamento na unidade penal de Paraíso do Tocantins. O júri popular está marcado para o dia 13 de maio de 2025. A Defensoria Pública afirmou, em nota, que atua para garantir o julgamento justo do réu, respeitando a ampla defesa e o contraditório.
O desaparecimento de Míria Mendes
Outro caso que causa comoção é o de Míria Mendes Sousa Lima, desaparecida desde agosto de 2023. O principal suspeito é seu ex-companheiro Adair Gonçalves, de 53 anos, que está preso e foi indiciado pelos crimes de tortura, estupro, feminicídio e ocultação de cadáver. O crime teria ocorrido em Guaraí.
“A dor que eu passo hoje eu não desejo para mãe nenhuma. Busco respostas e não encontro. Minha filha era alegre, cheia de sonhos”, desabafou Aldener Mendes Sousa, mãe de Míria.
A defesa de Adair Gonçalves se manifestou em nota, criticando a “espetacularização” do caso e afirmando que buscará comprovar sua inocência.
O Ministério Público informou que o caso de Míria tramita em segredo de Justiça e que recebeu a denúncia formal da Polícia Civil nesta quinta-feira (24).
Números preocupam especialistas
Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Tocantins (SSP), somente em 2024 já foram registrados 13 casos de feminicídio e 63 tentativas. Entre janeiro e abril, foram cinco feminicídios — leve redução em comparação ao mesmo período do ano passado, que registrou sete —, mas os números seguem preocupando especialistas.
“O medo já faz parte da nossa sociedade e, após a violência, ele triplica. O impacto é tão forte que pode levar ao adoecimento mental e exigir tratamentos psiquiátricos e psicológicos“, explicou a psicóloga Márcia Modesto.
Medidas protetivas: ferramenta necessária, mas ainda insuficiente
As medidas protetivas continuam sendo uma ferramenta fundamental para a proteção de vítimas de violência, mas nem sempre são respeitadas. Em 2024, já foram registrados 204 descumprimentos dessas medidas no estado. Em 2023, foram 758 casos.
O delegado Israel Andrade lembrou que descumprir medidas protetivas pode levar à prisão em flagrante ou à decretação de prisão preventiva.
“A pena para casos como esse pode chegar a 40 anos de prisão“, afirmou.
Conselho Estadual da Mulher se posiciona
Ao Jornal Sou de Palmas, uma membra do Conselho Estadual da Mulher e presidente do Sindjor, Alessandra Bacelar, informou que ouve avanços nesta luta.
“Até o ano passado tínhamos menos de 10 municípios com secretaria da mulher, esse numerou aumentou e muito”, relata.