Como não e entregar a angústia em meio a um mundo superficial
No filme O Sétimo Selo (1957), há um diálogo marcante entre o protagonista e a Morte, que veio buscá-lo, e que reflete com precisão a angústia que tantas pessoas vivem atualmente. Quando questionado se estaria pronto para partir, ele responde:
“Meu corpo quer lutar, mas meu coração não.”
Essa afirmação pode ser interpretada de várias maneiras. A mais evidente talvez seja a de que, mesmo diante do fim inevitável, ainda tentamos nos manter vivos. No entanto, há momentos em que o coração – símbolo de nossas emoções – apenas deseja descansar, desistir, se entregar.
Vivemos dias difíceis. Pessoas enfrentam guerras, miséria, fome, e são forçadas a deixar suas terras em busca de abrigo em nações desconhecidas. Outras, sufocadas pelas pressões da vida, se rendem aos vícios ou ao crime. Mães enterram filhos cedo demais, vítimas de tragédias urbanas. Hospitais transbordam de gente sofrendo, enquanto a morte se torna uma presença diária.
Diante de tudo isso, é legítimo se perguntar: vale a pena continuar lutando? Ainda há razão para acreditar em um futuro melhor?
A superficialidade proposta em nossas redes sociais nos faz acreditar que tudo no mundo precisa ser belo e deslumbrante – ou não serve. Esquecemos que não existe nada mais humano do que o erro, a falha, o cansaço, o que é considerado feio. Somos, por essência, parte do conjunto de animais que habitam este planeta. Não faz sentido transformar tudo em algo plástico e sintético apenas para parecer mais bonito. É no imperfeito que se revela a nossa maior beleza: a autenticidade.
Ao final do filme, o protagonista enfim se entrega à morte. Mas, diferente do início, ele já não vacila. As dúvidas que o faziam oscilar desapareceram. Ele sentiu que sua vida fez sentido, e que viveu da melhor forma que pôde.
Outra obra, mais recente, também ecoa essa reflexão: O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg. No fim do filme, o soldado Ryan declara, já idoso:
“Eu busquei viver da melhor forma”,
em resposta ao pedido de seu capitão, que antes de morrer lhe dissera:
“Faça por merecer.”
Talvez a resposta esteja nas pequenas coisas do cotidiano: o sorriso de alguém querido, um gesto inesperado de bondade, o prazer simples de aprender algo novo, a força de sair de casa para trabalhar ou estudar mesmo sem vontade.
É preciso resistir à manipulação das pressões sociais – digitais ou presenciais. Não somos moldes do que a sociedade considera tendência ou sucesso. Somos indivíduos únicos, cheios de camadas, vivendo essa complexa e desafiadora experiência de existir e conviver.
Wesley da Silva Santos é professor, escritor e pesquisador da educação, atua na área desde 2013, com artigos publicados em periódicos nacionais e publicações de livros vendidos em toda a américa latina.
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