Artigo – O mês de maio é dedicado à conscientização e ao combate ao abuso e violência infantil, trazendo à tona a alarmante realidade de muitas crianças vítimas de assédio. Dados de entidades como conselhos tutelares e delegacias especializadas revelam um aumento preocupante de 47% nas ocorrências desse tipo de crime em relação ao ano anterior, com muitas vítimas tendo menos de 10 anos. Essas estatísticas assustadoras são corroboradas pelo aumento das operações policiais que desmantelam esquemas de divulgação e venda de conteúdo sexual infantil. Por exemplo, em Araguaína, uma grande operação recente desmantelou uma associação criminosa que operava na deep web, aproveitando-se do anonimato para cometer esses crimes.
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Outro fator preocupante é a exposição das crianças a conteúdos hipersexualizados em redes sociais como YouTube e TikTok. Apesar de supostas restrições, esses canais muitas vezes divulgam vídeos de danças sensuais, músicas com letras inadequadas e esquetes com conotações sexuais. Esses conteúdos não apenas incentivam um comportamento inadequado entre as crianças, mas também aumentam o interesse precoce pela sexualidade. É importante também ressaltar que muitas vezes os próprios adultos e responsáveis acabam se equivocando na maneira de tratar de assuntos de relacionamento e sexualidade, quando fazem provocações às crianças sobre namoros e interesses que elas ainda nem desenvolveram, com provocações do tipo: “Já é namorador?” ou “E os gatinhos da escola?” etc.
Vale lembrar que criança não deve ser estimulada a pensar precocemente sobre relacionamentos, namoros e afins, o máximo que é necessário trata-se de tirar as dúvidas que a própria criança tiver sobre o tema, mantendo o diálogo aberto, mas evitando brincadeiras que banalizem a sexualidade, a fim de que elas tenham o tempo e maturidade necessária para enfim iniciar sua vida sexual na fase adulta. Em relação aos conteúdos online, é preciso monitoramento de redes sociais e reforçar as políticas de conteúdo das plataformas de redes sociais como YouTube e TikTok, garantindo a implementação efetiva de restrições de idade e removendo conteúdos inapropriados rapidamente.
É crucial que medidas mais rigorosas sejam tomadas para controlar e monitorar o conteúdo ao qual as crianças têm acesso, garantindo um ambiente mais seguro e saudável para seu desenvolvimento. Para mudar o cenário de abuso e violência infantil e a exposição das crianças a conteúdos inapropriados, é necessário adotar uma abordagem multifacetada que envolva a sociedade como um todo. Com campanhas educativas, visando intensificar a conscientização sobre os sinais de abuso infantil e como preveni-lo, dirigidas a pais, professores e cuidadores, implementar programas escolares de educação sexual apropriados para a idade, que ensinem as crianças sobre limites corporais e como reconhecer e reportar comportamentos inadequados.
Também é válido estabelecer regulamentações mais rígidas que responsabilizem as plataformas digitais pelo conteúdo publicado, impondo multas ou outras penalidades por não conformidade. Ao implementar essas ações de forma coordenada e contínua, é possível criar um ambiente mais seguro e saudável para o desenvolvimento das crianças, protegendo-as do abuso e da exposição a conteúdos prejudiciais.
Desta forma, todos contribuímos em conjunto para mais do que um mês de conscientização, tenhamos uma cultura de conscientização sobre abuso infantil.
Wesley Santos
Professor e Pesquisador