Os desafios dos adultos que não se sentem tão preparados para a vida
Havia uma época em nossa história recente que era razoavelmente fácil distinguir crianças, adultos e idosos, o mesmo não ocorre hoje, quando percebemos um grande número de mudanças nessas definições: idosos com mais disposição do que uma grande parcela de adultos médios, crianças envolvidas e interessadas por produzir conteúdo e ganhar dinheiro e adultos que consomem conteúdos de entretenimento (filmes, jogos, séries e afins) com gostos bem parecidos com as crianças e adolescentes. Se você questionar a uma pessoa entre 25 e 35 anos, sobre como ela se percebe no mundo, boa parte vai responder que ainda está tentando entender quem ela é no mundo, pois não se sente completamente adulto, com independência e certeza plena de suas escolhas, enquanto lembra claramente de sua infância e adolescência, como se tivesse acontecido há pouco tempo. Mas, todas as pessoas dessa idade são vistas e tratadas como adultas.
Muitos se incomodam e até estranham quando alguém diz:”Senhora!”, vem aquele frio na espinha: “Senhora? Quando eu me tornei uma senhora?” Pois é! Para muitos ainda é um sofrimento terrível perceber que são responsáveis por seus próprios problemas. São funcionários, líderes e prestadores de serviços de grandes empresas, que de vez em quando param para pensar que não são mais aquelas crianças inocentes que sonhavam em mudar o mundo, ser grandes profissionais, morar nos EUA ou Europa. Essa reflexão é muito pertinente e retrata bem o que muitos chamam de adolescência tardia ou adultescência , um aspecto em que a transição para a vida adulta parece ser mais diluída e prolongada do que nas gerações anteriores. A forma como avançamos a idade mudou significativamente devido aos avanços na saúde, mudanças socioculturais e transformações no mercado de trabalho.
Antigamente, marcos da vida adulta, como casar, ter filhos e alcançar estabilidade financeira, foram atingidos mais cedo. Hoje, muitas pessoas de 25 a 35 anos ainda estão buscando um propósito profissional, mudando de carreira, ajudando casamento e filhos ou simplesmente tentando se encontrar. Isso gera essa sensação de não pertencimento: são adultos na teoria, mas não se sentem completamente como tal.
Além disso, o fácil acesso à tecnologia e ao entretenimento faz com que gostos e hábitos se misturem entre gerações. Antigamente, adultos e crianças tinham universos culturais mais separados, enquanto hoje todos assistem aos mesmos filmes da Marvel, jogam os mesmos jogos e compartilham memes nas redes sociais. Por outro lado, também há um impacto emocional significativo. Muitos se sentem frustrados por não corresponderem às expectativas de sucesso que tinham na infância. O “sonho de mudar o mundo” dá lugar à realidade do dia a dia, e isso pode gerar crises existenciais.
No fim das contas, talvez a questão não seja tanto sobre quando nos tornamos adultos, mas sim sobre o que significa ser adulto hoje. Se antes isso estava atrelado a responsabilidades e conquistas concretas, agora parece muito mais uma questão de percepção e identidade. Você já sentiu essa sensação de deslocamento em algum momento?