O uso da tadalafila, medicamento indicado principalmente para o tratamento da disfunção erétil, tem crescido expressivamente no Brasil — e junto com ele, os alertas de órgãos de saúde sobre os riscos associados à automedicação. Nesta quarta-feira (14), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a fabricação, comercialização e uso do produto Metbala, uma bala tipo gummy à base da substância, por ausência de registro sanitário.
A tadalafila pertence à classe dos inibidores da enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE-5) e é vendida com nomes comerciais como Cialis e Adcirca. Além da disfunção erétil, é aprovada para tratar hiperplasia prostática benigna (HPB) e hipertensão arterial pulmonar (HAP), esta última em formulação específica.
A decisão da Anvisa se baseia no fato de que o produto Metbala não possui regularização e era produzido por uma empresa sem autorização para fabricar medicamentos. A comercialização do produto em redes sociais e sua divulgação sem respaldo técnico também configuram infração sanitária, sujeita a penalidades.
Uso recreativo e popularização
O consumo da tadalafila vem sendo impulsionado por referências culturais e pelo uso indevido em contextos que vão além da indicação médica. Relatórios apontam que, em 2024, a substância foi a terceira mais vendida no país, atrás apenas da losartana e da metformina. Em 2020, foram comercializadas 21,4 milhões de caixas; em 2023, esse número saltou para 47,2 milhões, segundo a Anvisa.
A música “Tadalafila”, da banda Os Barões da Pisadinha em parceria com Alanzim Coreano, viralizou nas plataformas digitais e reforçou o uso da substância como um suposto aliado do desempenho sexual prolongado. Autoridades e entidades de saúde pública alertam que essa exposição midiática pode estimular o consumo recreativo, especialmente entre homens jovens, sem qualquer necessidade clínica.
Riscos e efeitos adversos
O uso da tadalafila sem prescrição médica pode provocar efeitos colaterais como dor de cabeça, congestão nasal, dores musculares, rubor facial e indigestão. Em casos mais graves, há risco de priapismo (ereção prolongada e dolorosa), perda súbita de visão ou audição, além de quedas perigosas da pressão arterial — sobretudo em pacientes que usam medicamentos com nitratos.
O medicamento é contraindicado para pessoas com problemas cardíacos, usuários de nitratos, ou indivíduos com hipersensibilidade à substância. Segundo o Cremesp, a prescrição da substância com fins meramente estéticos ou esportivos fere o código de ética médica.
Uso em academias e busca por hipertrofia
Nos últimos anos, a tadalafila passou a ser usada por frequentadores de academias como um suposto facilitador do ganho de massa muscular, embora não haja comprovação científica de que a substância melhore o desempenho físico ou contribua para a hipertrofia. A teoria por trás do uso irregular sugere que o aumento do fluxo sanguíneo aos músculos favoreceria os treinos, o que é rejeitado por especialistas.
Controle e prescrição obrigatória
Por se tratar de um medicamento de tarja vermelha, a tadalafila só pode ser adquirida com receita médica. O Conselho Federal de Farmácia e a Anvisa alertam que o uso indiscriminado pode mascarar disfunções mais graves e gerar dependência psicológica.
Fátima Cardoso, conselheira federal de Farmácia de Sergipe, reforça: “A prescrição médica é indispensável. Mesmo em pessoas mais velhas, o uso deve ser cauteloso e supervisionado, com atenção às interações medicamentosas e às condições de saúde preexistentes”.
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