Com a morte do Papa Francisco no último dia 21 e o sepultamento marcado para este sábado (26), os ritos funerários no Vaticano voltaram a ganhar atenção mundial. A tradição católica prevê que o corpo de um pontífice permaneça exposto por dias, permitindo que fiéis prestem homenagens. Para isso, é necessário um complexo processo de conservação tarefa que nem sempre foi bem-sucedida na história da Igreja.
Um dos episódios mais emblemáticos nesse sentido envolveu o Papa Pio XII, falecido em 1958. Conhecido por liderar a Igreja durante a Segunda Guerra Mundial e por suas controversas relações com regimes autoritários como o nazismo e o fascismo, Pio XII protagonizou um dos funerais mais problemáticos da história recente da Santa Sé.
Um outono quente e um velório que deu errado
Pio XII, cujo nome civil era Eugenio Pacelli, morreu aos 82 anos em 9 de outubro de 1958, vítima de uma parada cardíaca após uma rápida deterioração de saúde. Ele estava em Castel Gandolfo, a tradicional residência de verão dos papas nos arredores de Roma, durante um outono atipicamente quente.
À beira do leito papal estava seu médico de confiança, Riccardo Galeazzi-Lisi, um oftalmologista que havia ascendido ao posto de “arquiatra pontifício”, o equivalente ao chefe da equipe médica do Vaticano.
Galeazzi-Lisi logo se tornou o centro de uma série de escândalos. Nos dias que antecederam a morte do papa, ele fotografou Pio XII recebendo oxigênio e vendeu as imagens à revista francesa Paris Match, o que foi visto como uma grave quebra de ética e de respeito à figura do pontífice.
O corpo se decompondo diante dos fiéis
Mas o episódio mais marcante envolvendo Galeazzi-Lisi ainda estava por vir. Responsável também pela conservação do corpo, ele desenvolveu um método próprio que evitava a tradicional autópsia e o embalsamamento com produtos químicos, alegando que seguia uma técnica “antiga dos faraós”. O resultado, no entanto, foi catastrófico.
Com o calor e a falha na preservação, o corpo de Pio XII começou a se decompor rapidamente. Relatos da época indicam que um odor intenso se espalhava pelo ambiente e que houve escurecimento e inchaço visíveis do cadáver. O episódio gerou desconforto entre os fiéis, constrangimento à Igreja e repercussão internacional.
Galeazzi-Lisi foi severamente criticado e, pouco tempo depois, afastado de suas funções no Vaticano. O episódio entrou para a história como um dos maiores fracassos na condução de um funeral papal.