Você já parou para pensar que existem desejos que escapam das nossas escolhas conscientes? Pois é, Freud acreditava que sim. E talvez os bebês reborns sejam um exemplo vivo (perdoe a ironia) dessa teoria freudiana em ação nos dias de hoje.
Nos últimos anos, muitos jovens e adultos têm sustentado um discurso bastante claro: é possível — e até desejável — viver uma vida saudável e plena sem se preocupar com tradições como casar e ter filhos. Esse pensamento deu origem a novos modos de afetividade e pertencimento: surgiram os “pais de pet”, os “pais de planta” e, mais recentemente, os “pais de bebê reborn”.
Essas bonecas hiper-realistas, feitas para parecerem recém-nascidos de verdade, se tornaram uma verdadeira febre entre adultos. Vídeos, fotos e memes sobre o assunto tomaram conta das redes sociais. Mas o que estaria por trás desse desejo de ter um objeto que simula um bebê humano com tamanho grau de realismo? Estaríamos diante de um desejo não suprido — talvez até inconsciente?
Sabemos que uma das principais razões pelas quais muitas pessoas optam por não ter filhos é a busca por liberdade. A responsabilidade de cuidar de outro ser humano, que chora, adoece e depende completamente do outro, não é uma escolha leve — e nem deveria ser. E não há problema algum nisso. Cada um deve ter o direito de decidir como quer viver sua vida, sem julgamentos. Afinal, é bem melhor não ter filhos do que tê-los por obrigação e acabar causando sofrimento a eles.
Mas o que acontece quando nossas escolhas conscientes não coincidem com nossos desejos mais profundos? Freud apontava que, muitas vezes, somos conduzidos mais por aquilo que nos habita inconscientemente do que por aquilo que decidimos racionalmente. E talvez seja aí que entram os bebês reborns. Ao oferecerem o afeto visual, o toque e o simbolismo de um bebê sem as exigências práticas e emocionais que um filho real traz, essas bonecas podem servir como uma válvula de escape para uma vontade reprimida — a de maternar, cuidar, proteger.
Não estou dizendo que todas as pessoas que aderem à moda dos bebês reborns estão lidando com traumas ou arrependimentos. Longe disso. Mas é curioso notar como a fantasia de ter um bebê — sem os desafios de um bebê real — atende a uma necessidade que vai além da lógica, e toca o terreno mais delicado dos afetos e frustrações.
No fim das contas, talvez eu soe apenas como um velho chato que não deixa ninguém ser feliz em paz. Mas fica o convite: será que nossas escolhas estão mesmo nos satisfazendo? Ou será que, como dizia Freud, nem nós mesmos sabemos ao certo o que queremos?
Feliz dia das mães!
Tem algo para contar? 🚨 Sua história pode virar notícia! Fale com a nossa redação pelo WhatsApp (63) 9 9274-5503 ou envie um e-mail para [email protected]