A decisão do ministro Mauro Campbell, confirmada por unanimidade pelo STJ nesta quarta-feira (3), detalha os papéis de políticos, empresários e assessores suspeitos de integrar um esquema que desviou milhões de reais de contratos de cestas básicas durante a pandemia no Tocantins. As investigações revelam pagamentos em espécie, uso de empresas de fachada, obras milionárias e conversas interceptadas que mostram a engrenagem da fraude.
O núcleo político: Wanderlei e Karynne no comando
No topo da organização, segundo o STJ, estava o então governador Wanderlei Barbosa e a primeira-dama e secretária de Estado, Karynne Sotero Campos.
Wanderlei é apontado como chefe político, beneficiado diretamente por pagamentos de boletos pessoais feitos por assessores logo após repasses a fornecedores de cestas.
Karynne, além de influenciar contratos, foi citada em diálogos ligados ao IDEGESESC/IDESS, instituto usado para captar emendas parlamentares.
Trecho de conversa atribuída a assessor de confiança:
“Os boletos do governador já foram pagos. Foi em espécie, vindo do contrato da MC Alimentos.”
O papel dos assessores
Dois auxiliares próximos, Marcos Martins Camilo e Matheus Macedo Mota, são descritos como responsáveis por quitar despesas pessoais de Wanderlei com dinheiro do esquema.
Eles movimentavam valores em espécie logo após pagamentos de contratos.
O ministro destacou que tais operações “só se justificam diante de um fluxo de caixa paralelo” mantido para atender demandas do governador.
Empresários e operadores: as empresas no centro do esquema
O núcleo empresarial-operacional era responsável por criar empresas de fachada, manipular licitações e distribuir propinas. Entre os citados:
Taciano Darcles Santana Souza — assessor especial de Wanderlei, atuava como operador das empresas contratadas, segundo diálogos.
Welber Guedes de Morais — apontado como dono de fato do Mercado das Carnes Ltda. e Mediomorais Norte Alimentos Ltda.
Joseph Ribamar Madeira — empresário e amigo pessoal do governador, dono de fornecedoras de alimentos. Mensagens citadas na decisão revelam proximidade direta.
Adriana Rodrigues Santos — esposa de Joseph Madeira, também aparece nos registros.
Warks Márcio Ribeiro de Souza — ligado à empresa Silva e Reis Ltda., já investigado em outro inquérito.
Roberto Sousa Alves — articulava o fornecimento de cestas via cooperativas e institutos.
Paulo César Lustosa Limeira e César Lustosa Limeira — irmãos citados como intermediários, com acesso direto à cúpula do governo.
Conversas revelam direcionamento de contratos
Interceptações telefônicas e mensagens recuperadas em celulares mostram a forma como os certames eram direcionados.
Em um dos diálogos, entre operadores, ficou registrado:
“Manda as 3 propostas… Quem ganha? — Portinari.”
A resposta imediata foi seguida de uma ordem:
“Apaga as msg.”
Outro trecho associa o assessor Taciano Darcles à primeira-dama Karynne e ao deputado Ivory de Lira, sugerindo articulação política para beneficiar fornecedores específicos.
A obra milionária da pousada
A decisão também detalha a construção da Pousada Pedra Canga, em Taquaruçu, avaliada em mais de R$ 6 milhões. Foram identificados R$ 4 milhões não contabilizados, com indícios de que o montante teria origem em propinas pagas em dinheiro vivo.
O relator classificou o caso como hipótese de lavagem de dinheiro em curso.
Contexto legal
A decisão se apoia nos artigos 282 e 319 do CPP, que permitem medidas cautelares de afastamento e restrição de atividades para evitar continuidade delitiva.
Os crimes apurados incluem:
Fraude à licitação (art. 337-F, CP)
Peculato (art. 312, CP)
Corrupção passiva (art. 317, CP)
Lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98)
Organização criminosa (Lei 12.850/13)
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