Quem faz compra nos supermercados e açougues sabe: a carne está mais cara do que nunca. E tudo conspira para que os preços fiquem nas alturas, pelo menos pelos próximos meses.
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Do início de setembro para cá, o valor da carne bovina no atacado já subiu quase 50%. Esse aumento foi repassado quase que integralmente para o varejo em alguns cortes de bovino.
É o caso do contrafilé que, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), teve reajustes acima de 50% em menos de três meses, e do coxão mole, que subiu 46% no período.
Segundo pesquisa da BoiSCOT Consultoria, o mercado está agitado com cotações subindo em média 8,9% por semana desde início de novembro.
O levantamento indica que o atual preço da arroba bateu recordes e chega a ser negociado por R$ 230, com aumentos registrados em 29 das 32 praças do Estado de São Paulo pesquisadas pela entidade.
“É a primeira vez, desde novembro de 1991, que a cotação atinge esse patamar (considerando o preço nominal e também o preço deflacionado)”, disse a BoiSCOT quado o preço bateu R$ 200.
Esse movimento é motivado por motivos internos e externos. O principal deles é a China.
O maior consumidor de carne bovina do mundo teve sua criação de porcos dizimada pela peste africana em meados de agosto do ano passado. Cerca de 40% dos animais precisaram ser abatidos para não espalhar a doença. E como o vírus não apresenta perigo para o consumo humano, esse estoque ainda durou por um tempo, mas o efeito da escassez eventualmente chegou ao preço.
“A China vai demorar para poder recompor todo o estoque das suas matrizes. Pode demorar de dois a três anos para que tudo possa voltar a patamares normais. Parte disso vai ser suprido por importação de carne bovina e o Brasil está entre esses países exportadores. Nossa produção de carne bovina é bem grande”, diz Julia Passabom, economista especialista em inflação do Itaú Unibanco.
O volume exportado em outubro foi de 185,5 mil toneladas, um crescimento de 15% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC).
Em relação ao mês anterior, o aumento reportado foi de quase 62%, elevando a receita US$ 808,4 milhões, 30% acima do mesmo mês em 2018.
“O real desvalorizado em relação ao dólar também contribui para a alta das exportações, porque deixa o produto brasileiro mais competitivo lá fora”, acrescenta Passabom.
Além da influência das exportações, bastante voltadas para a China, há outros fatores que influenciam o preço da carne no Brasil. Um deles é a sazonalidade.
“Chegando ao fim do ano, os brasileiros ganham décimo terceiro salário, fundo de garantia, o que naturalmente já aquece a demanda para esse tipo de alimento”, diz Passabom. A demanda mais aquecida pelo item também é estimulada pelas festas de fim de ano.
Outro motivo é a entressafra no setor de criação de gado, que acontece nessa época: “Faz parte da característica do ciclo da proteína. Há um abate mais forte no começo do ano. Então a oferta acaba ficando um pouco mais reduzida nos últimos meses do ano. Mas só isso normalmente não incentiva grandes desvios de preço”, diz Passabom.
Até quando?
É difícil dizer exatamente até onde vai a pressão sobre o preço da carne no Brasil, mas, na opinião de economistas, ainda falta uns meses para que o mercado possa encontrar um equilíbrio.
“Com o Ano Novo Chinês, em janeiro, essa pressão se manterá”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. A consultoria mantém sua projeção de um IPCA a 3,6% ao ano em 2020, apostando numa estabilização desse movimento.
“Daqui a três ou quatro meses, isso deve se normalizar”, aposta Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais. O prazo é o mesmo arriscado pelo presidente Jair Bolsonaro em transmissão feita pela internet.