O governo federal emitiu nesta segunda-feira (22) nota em que “repudia nos mais fortes termos” os ataques racistas sofridos pelo jogador brasileiro Vinicius Jr, do Real Madrid, em jogos da liga espanhola.
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O texto é assinado conjuntamente pelos ministérios de Relações Exteriores, Igualdade Racial, Esporte e Direitos Humanos e Cidadania.
No comunicado, o governo pede que as “autoridades governamentais e esportivas da Espanha” tomem providências para punir os autores dos atos de racismo e evitar que eles se repitam.
Do Japão, ainda na noite de domingo (no horário brasileiro), o presidente Lula (PT) manifestou solidariedade ao jogador, e cobrou ações por parte de autoridades do futebol espanhol.
Confira o pronunciamento do presidente da República:
Em coletiva de imprensa no Japão, hoje (21), presidente @LulaOficial condenou o racismo sofrido por @vinijr
“Começo com um gesto de solidariedade ao jogador brasileiro jovem, negro, que joga no Real Madri e ontem foi fortemente atacado sendo chamado de macaco.
É preciso que… pic.twitter.com/tzhYq2l88S
— Presidência da República do Brasil (@presidencia_BR) May 22, 2023
No dia 10 de maio, Brasil e Espanha assinaram um acordo bilateral para o combate ao racismo e à xenofobia.
Nota de repúdio divulgada pelo governo brasileiro
“O governo brasileiro repudia, nos mais fortes termos, os ataques racistas que o atleta brasileiro Vinícius Júnior vem sofrendo reiteradamente na Espanha.
Tendo em conta a gravidade dos fatos e a ocorrência de mais um inadmissível episódio, em jogo realizado ontem, naquele país, o governo brasileiro lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo.
Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à FIFA, à Federação Espanhola e à Liga a aplicar as medidas cabíveis.
O governo brasileiro tem atuado em cooperação com o governo da Espanha para coibir, reprimir e promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes e imigrantes ao esporte com total intolerância a toda e qualquer prática discriminatória, com o apoio ao aperfeiçoamento das melhores práticas internacionais para promover a prevenção e o combate ao racismo, além de qualquer tipo de discriminação nas diferentes modalidades de esportes.”
Entenda o caso
Durante a partida pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol, no domingo, 21, o Valencia venceu por 1 a 0, o Real Madrid. Aos 24 minutos do segundo tempo, numa jogada pela esquerda. Vinicius Junior foi atrapalhado por uma segunda bola em campo (supostamente jogada pela torcida).
O atacante do Real reclamou e parte dos torcedores mais próximos o xingaram de “macaco”, o que já havia ocorrido anteriormente. Conforme o técnico Carlo Ancelotti, Vinícius Jr não queria mais continuar jogando. O jogador chamou o árbitro Ricardo De Burgos Bengoetxea para denunciar um determinado torcedor. O árbitro então conversou com jogadores e com os técnicos dos dois times, além do quarto oficial.
O sistema de som do estádio emitiu dois avisos: um de que a partida havia sido paralisada devido a esse episódio de racismo, e o segundo de que ela só voltaria caso os xingamentos e cânticos fossem encerrados.
A paralisação durou aproximadamente oito minutos. O segundo tempo continuou, e por volta dos 48 minutos, mais uma confusão foi iniciada na área do Valencia. O goleiro Mamardashvili partiu para cima de Vinicius Junior (ambos receberam cartão amarelo inicialmente), e outros atletas foram envolvidos.
No meio do alvoroço, o atacante do Valencia, Hugo Duro, deu um mata-leão em Vini, segurando-o pelo pescoço. Ao se soltar, Vinicius acertou o rosto do adversário. Acalmados os ânimos, o VAR chamou o árbitro, Burgos Bengoetxea, que reviu o lance e decidiu expulsar o brasileiro.
Após ser expulso da partida, Vinicius Junior saiu de campo aplaudindo, fazendo comentários e gesticulando “2” com as mãos (provocação em referência à briga do Valencia contra a segunda divisão). Integrantes da comissão técnica do time adversário e jogadores que estavam no banco de reservas foram tirar satisfação. O brasileiro precisou ser escoltado por colegas de Real Madrid.
Nas redes sociais, o jogador afirmou que a La Liga, a Federação de Futebol da Espanha acham o comportamento racista “normal” e que o país europeu hoje é conhecido como um país racista no Brasil.
“Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, escreveu Vini.
A LaLiga, que organiza a competição, tinha registrado até o fim de março oito reclamações na Justiça por racismo contra Vinicius Junior apenas nesta temporada do campeonato. A liga espanhola criou em fevereiro uma comissão específica para lidar com casos relacionados ao brasileiro.
Em nota divulgada após a partida a LaLiga declarou que vai investigar os “incidentes” ocorridos no estádio Mestalla. A liga também informou que já solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o caso e, caso necessário, vai tomar “todas as medidas cabíveis”.
O Valencia, por sua vez, emitiu comunicado condenando “qualquer tipo de insulto, ataque no futebol”. O clube se declarou contrário à violência física e verbal nos estádios e lamentou o ocorrido no jogo contra o Real Madrid. No entanto, classificou o caso como “episódio isolado” e prometeu tomar “as medidas mais severas” após investigação. Além disso, condenou qualquer ofensa e pediu “respeito máximo” à sua torcida.