Escutas telefônicas feitas com autorização da Justiça mostram diálogos entre mulheres que supostamente integram uma facção criminosa que atua no tráfico de drogas no Tocantins. De acordo com a Polícia Civil, elas ocupavam altos cargos administrativos dentro do grupo e queriam mais autonomia no mundo do crime. As conversas interceptadas pela polícia fazem parte da investigação que deu origem à operação Rosetta, deflagrada nesta quinta-feira (24)
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Parte do plano das investigadas para conseguir mais independência e dinheiro seria criar pontos de venda de drogas comandado apenas por elas. As transcrições trazem os nomes utilizados pelas suspeitas na facção.
Vitória de Guerra: Demorou então, irmã! Nois vai caçar um lugar pra tá montando essa biqueira, biqueira, num tem? Pra nois ficar desprinte, pra não chamar a atenção da polícia, de ninguém. Nois dá conta, dá conta, nois muié é mais inteligente do que esses homens aí oh!
Em outro trecho das conversas, a suspeita diz que as mulheres precisam fazer o próprio “progresso”. O que elas queriam era evoluir no mundo do crime para não depender de marido e de ninguém.
Vitória na Guerra: Irmã, bora pensar no nosso progresso, cara! Nois mesmo, num tem? Pra gente num ter que ficar aí: ah isso aqui quem me deu foi meu marido pah! Nam, isso aqui quem me deu foi eu mesma, eu fui pro corre. Ninguém me deu não.
Os áudios deixam claro que o objetivo delas era ganhar dinheiro com o mundo do crime.
Vitória na Guerra: bora, num tem? Vai dá é bom, pô! Nois vai se estruturar. Eu vou ajudar pra nois se estruturar, nois irmã. Porque aí eu quero ver minhas irmãs. Porque eu quero ver é minhas irmãs bater de Land Rover, Lamburguine. Cada irmã ter um brinquedinho, tá ligado! Nois tem que ser assim, meu mano!
HNI: hei vei, num vou mentir não. Eu tenho vontade de um Golf rebaixado.
Os diálogos mostram que existia uma cúpula feminina dentro da facção criminosa. Elas seriam responsáveis por fazer o “batismo” de novas membras e inclusive fizeram planos para matar uma mulher que era do grupo rival.
Em um trecho das conversas elas debatem sobre a necessidade de arrumar munições para participar de um “bang”, que para a polícia pode ser um plano para matar algum faccionado rival.
Dona Bela: Não, vai dar certo, eu vou arrumar os caroços, pode ficar de boa.
Sereia do Mar: Não, aí é outra ideia né Vitória porque é o seguinte, o que que adianta tu tá com o bung (arma) e o bung não tá… e aí, me diz? Que que adianta? Mesma coisa de nada, parceira.
A operação
A operação Rosetta cumpriu 13 mandados de prisão em seis cidades do estado, 11 deles contra mulheres. A polícia informou que todas as mulheres investigadas possuem “cargos” importantes dentro da facção, gerenciando, ordenando e executando tarefas de relevância.
Os mandados foram cumpridos em seis cidades do Tocantins: Araguaína, Aliança do Tocantins, Miracema, Pium e Pedro Afonso, além de Palmas. O objeto da ação foi desarticular a participação dessas mulheres no grupo criminoso.
A operação foi realizada pela Divisão Especializada de Repressão ao Crime Organizado (Deic) de Palmas. Participaram da ação 14 equipes de policiais civis das divisões de Combate ao Crime Organizado, Investigações Criminais, Repressão a Narcóticos e Homicídios.
A operação ganhou o nome por causa de Rosetta Cutolo, irmã do chefe de uma facção criminosa da Itália. Ela teria orquestrado, em 1978, a fuga de seu irmão de uma unidade hospitalar psiquiátrica. Até aquele momento, não se tinha registros da participação feminina em altos cargos de decisão e gerenciamento de organizações criminosas.