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Mais de 700 pacientes renais crônicos estão internados na rede pública aguardando vaga para realizaram a diálise fora do hospital.
O levantamento foi feito este ano pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) em conjunto com suas unidades regionais e divulgado nesta quinta-feira (14), Dia Mundial do Rim.
“O levantamento é uma estimativa. O número real pode ser superior”, afirma a nefrologista Andrea Pio de Abreu, secretária-geral da SBN.
“Esses pacientes não possuem, portanto, critérios para se manterem internados, além da necessidade de realizar diálise. Essas vagas estão ocupadas e poderiam ser liberadas para outros pacientes que possuem realmente critério de internação”, completa.
O Ministério da Saúde afirmou não dispor dessa informação.
Um paciente com problema renal crônico que não faça diálise corre risco de morte, segundo a nefrologista. A diálise é um procedimento realizado por meio de uma máquina que filtra o sangue, removendo toxinas como ureia e creatinina, em pacientes com funcionamento do rim abaixo de 15%. Além disso, retira o excesso de água do organismo em pacientes que não conseguem eliminá-la pela urina.
Esse déficit de vagas em unidades de diálise se deve, segundo a secretária-geral da SBN, à demora no credenciamento de clínicas e à falta de investimento financeiro do governo. “O número de pacientes cresce, mas o de unidades, não”, diz.
Cerca de 130 mil pessoas fazem diálise no país, de acordo com a SBN. A cada ano, há um aumento de 30 e 70 mil pacientes. O Ministério da Saúde afirma que o SUS dispõe de 26.676 equipamentos para hemodiálise, uma modalidade da diálise, com capacidade para atender até 160 mil pessoas.
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“Em dezembro de 2017, a pasta redefiniu o recurso financeiro anual destinados ao custeio da nefrologia no montante de R$ 3,17 bilhões por ano. Também houve a expansão de 45% da rede de serviços habilitados para a assistência dos doentes renais crônicos no período: passou de 488 para 707. Cabe informar ainda que são feitos reajustes regulares na tabela SUS voltada a esse atendimento”, afirmou o Ministério por meio de nota.
Hipertensão é a doença que mais leva à diálise
A doença renal crônica é um problema de saúde pública mundial, de acordo com a nefrologista. Ela avança, assim como suas principais causas, que são o diabetes e a hipertensão. No Brasil, a hipertensão é a doença que mais leva à diálise.
A pressão alta, a longo prazo, provoca lesões no rim, principalmente vasculares, segundo a médica. “O rim é afetado pela pressão alta e também é responsável por regular a pressão. Se há uma doença renal crônica, isso aumenta ainda mais a pressão, provocando um ciclo vicioso”, explica a nefrologista.
Já o diabetes descontrolado altera a estrutura do glomérulo, unidade funcional do rim onde ocorrem a filtragem do sangue e a formação da urina.
A nefrologista explica que, como a hipertensão e o diabetes são assintomáticos, a doença renal demora 10 anos em média para ser percebida. A maior parte dos pacientes é diagnosticada após os 50 anos.
Paciente percorre 17 km para fazer diálise
Estima-se que 1 em cada 10 pessoas tenham doença renal crônica. “Muitos não sabem que têm porque é preciso que a doença esteja em estágio avançado para produzir sintomas. É possível o paciente ter perdido 50% da função renal e não sentir nada”, afirma.
Foi o caso do veterinário Nei Celso Fatuch, 70. Aos 18 anos, ao sentir mal-estar depois de uma partida de futebol, descobriu no hospital que seu rim direito não estava mais funcionando.
“Tive que retirá-lo, mas vivo até hoje com um rim só. Há apenas um ano e meio comecei a fazer diálise porque comecei a ter problema no outro rim”, conta.
Fatuch mora em Curitiba e percorre 17 km, entre os bairros de Bacacheri e Portão, para realizar a diálise. “Minha sorte é que posso dirigir”, diz. Ele faz o procedimento três vezes por semana, durante quatro horas.
Os critérios para a escolha de uma unidade de diálise tão longe de casa foi a cobertura do plano de saúde e por se tratar de clínica especializada. “Gosto do ambiente”, diz.
SUS oferece exames de rastreio
O exame de rastreio de doenças renais é simples e de fácil acesso na rede pública, segundo a nefrologista. Ela explica que se tratam dos exames de urina e de creatinina no sangue. “Eles conseguem mostrar se já existe alguma alteração no rim”, diz.
“Muitas vezes é possível retardar a progressão da doença renal com medidas simples, como controle da glicemia no sangue, no caso de diabéticos, e controle da pressão, em pessoas com hipertensão. Na hipertensão, vale ressaltar que não basta tomar o remédio, é preciso fazer o controle da pressão”, completa.
Segundo ela, a taxa de mortalidade da doença renal crônica é alta, mas, como apresenta muita variação, de acordo com a região do Brasil, é difícil precisá-la. “Com a diálise, os pacientes vivem 20, 30 anos. O que influencia é se ele tem um bom acesso para a diálise e se outros órgãos estão funcionando de maneira adequada. Além disso, se ele segue as recomendações nutricionais e hídricas, ingerindo até 800 ml de líquido por dia, e se toma os medicamentos”, afirma.
A diálise substituti algumas funções do rim, mas outras, como a produção de hormônios que evitam anemia e doenças ósseas, não. Por isso é necessário também o uso medicamentos e de hormônios.
Ela ressalta que o paciente não pode ficar mais de três dias sem fazer diálise. “Quando for viajar, precisa se informar sobre clínicas de referência no local do destino”, orienta.
Segundo a médica, é possível fazer diálise e ter qualidade de vida. O acompanhamento de um nefrologista e o apoio familiar ajudam nesse processo. “O papel de cada um é importante para suporte”, diz.