A Amazônia teve mais chuvas, mais queimadas e mais alertas de desmatamento entre janeiro e agosto em 2019 do que o registrado no bioma nos mesmos períodos desde 2016.
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Os dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O período de análise não pôde ser anterior a 2016 porque o sistema de monitoramento de desmate mudou e não permite comparações mais antigas.
Os números vão contra declarações dadas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Após a alta das queimadas afetar a rotina de São Paulo e virar pauta do G7, Bolsonaro chegou a relacionar as queimadas na Amazônia à estação durante um pronunciamento em rede nacional no dia 23 de agosto.
“Estamos numa estação tradicionalmente quente, seca e de ventos fortes em que todos os anos, infelizmente, ocorrem queimadas na região amazônica. Nos anos mais chuvosos, as queimadas são menos intensas. Em anos mais quentes, como neste, 2019, elas ocorrem com maior frequência” , afirmou Jair Bolsonaro, presidente da República
Nos dias 20 e 21 de agosto, Salles também atribuiu as queimadas ao clima.
“Tempo seco, vento e calor fizeram com que os incêndios aumentassem muito em todo o País. Os brigadistas do ICMBIO e IBAMA, equipamentos e aeronaves estão integralmente à disposição dos Estados e já em uso”, escreveu Salles, no dia 20.
“Com o Gov @MauroMendes40, em vistoria sobre as queimadas no MT, com equipes de apoio e recursos. O tempo seco e quente contribui, mas casos como esse, de terrenos baldios urbanos em Cuiabá onde se coloca fogo no lixo atrapalham muito as cidades”, afirmou Salles, no dia 21.
Especialistas apontam que os índices pluviométricos não permitem apontar qualquer relação entre tempo seco e focos de fogo no bioma, além de afirmarem que a dinâmica das queimadas na Amazônia tem relação direta com a ação humana e o desmatamento.
“Quando é mais seco, a gente pode esperar um aumento grande de queimadas. Mas não dá para dizer que isso está acontecendo este ano. Todas as evidências são de incêndios em áreas desmatadas” – Carlos Nobre, cientista e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados de São Paulo
Período de estiagem
Os dados mostram ainda que mesmo no trimestre da estiagem (junho, julho e agosto), a média de chuva registrada nas áreas de floresta amazônica foi acima da média histórica.
Foram 119 mm, sendo que a média histórica para o período é de 108 mm. A estiagem só se intensificou no mês passado, quando 7 dos 9 estados que integram o bioma apresentaram índice de precipitação inferior à média.
De acordo com o chefe da previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Francisco de Assis Diniz, as chuvas deste ano estão dentro da normalidade.
O pesquisador do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam) Divino Vicente Silvério afirma que há uma forte relação entre desmatamento, queimadas e chuva. Um estudo do instituto aponta que os municípios com maior número de queimadas tiveram as maiores taxas de desmatamento em 2019.
“Mesmo tendo condições climáticas que são mais amenas, ainda assim temos um número de incêndios florestais muito superior ao que observamos nos últimos anos” – Divino Vicente Silvério, pesquisador do Ipam.
Impactos dos incêndios na Amazônia
De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, os incêndios na Amazônia causam prejuízos ambientais mais graves do que os verificados em países com outros biomas. Os principais motivos são:
Maior perda de biodiversidade: a floresta amazônica é o maior bioma do mundo e abriga a diversidade mais rica do planeta, segundo o ICMBio.