Algumas decisões, na medicina e na política, exigem mais que pressa — exigem critério.
Ninguém marca uma cirurgia de grande porte com base num palpite.
Antes, se faz exame, se avalia risco, se estuda o histórico, se escuta o paciente.
Sem isso, o bisturi vira imprudência.
E é exatamente essa imprudência que vejo no Projeto de Lei Complementar nº 04/2025, que autoriza Palmas a contrair um empréstimo de R$ 300 milhões com o Banco do Brasil.
Uma operação complexa, com impacto de 12 anos nas contas públicas — e que querem aprovar com urgência, sem laudo, sem plano detalhado, sem escuta da sociedade.
A Prefeitura quer fazer uma cirurgia profunda nas finanças da cidade, mas não apresentou nem o exame básico.
Cadê o cronograma de obras?
Cadê o valor de cada intervenção?
Cadê o mapa dos bairros contemplados?
Cadê a compatibilidade com o Plano Plurianual aprovado por esta Casa?
Falam em investir, mas não dizem onde. Falam em infraestrutura, mas não mostram os projetos. Falam em avanço, mas escondem o impacto.
E o impacto é grande.
Vamos aos dados que o governo não gosta de falar em voz alta:
Em 2023, Palmas tinha nota A+ no índice CAPAG, que mede a saúde fiscal do município.
Em 2024, caímos para B+.
Um sinal claro: nossa capacidade de endividamento está perdendo fôlego.
E mesmo assim, querem dobrar a dívida consolidada da cidade.
Hoje, já pagamos R$ 78 milhões por ano com o serviço da dívida atual — valor alto, mas controlado.
Com esse novo empréstimo, vamos ultrapassar R$ 140 milhões por ano em parcelas.
Ou seja: quase R$ 12 milhões por mês só para pagar banco.
Para se ter uma ideia, em abril de 2025, a Prefeitura de Palmas pagou R$ 12,1 milhões em auxílio-alimentação para 11.101 servidores públicos e conselheiros tutelares, conforme divulgado pela própria prefeitura.
Estamos falando de comprometer mensalmente um valor superior ao que é destinado ao auxílio-alimentação de todos os servidores públicos municipais, em dívida, pelos próximos 12 anos.
E tudo isso com base em quê?
Numa promessa genérica de que “as obras são importantes”.
Não discordo.
Mas não se aprova uma anestesia geral com base num achismo.
E é isso que estão tentando fazer: anestesiar o debate, acelerar a votação, passar por cima do que deveria ser o mínimo — planejamento.
Já existe um Plano Plurianual.
Já existem metas e investimentos programados para o período até 2025.
Se há necessidade real de novas obras, que se revise o plano com transparência, com números, com audiências públicas.
Mas não é isso que está sendo feito.
O que vemos é um pedido de cheque em branco.
R$ 300 milhões, sem garantias claras, sem estudo de impacto público, sem controle social.
A cidade não precisa de improviso com valor alto.
Precisa de organização. De prioridade. De respeito ao dinheiro público.
Por isso, sou contra esse empréstimo como ele está.
Porque a cirurgia é grande demais para ser feita sem exame.
E se há uma coisa que aprendi em anos de medicina e gestão pública é que decisões mal preparadas custam caro. Às vezes, custam a vida. Na política, custam o futuro.