Após mais uma polêmica com o transporte público, envolvendo a paralisação dos serviços da Viacap em Palmas, nesta terça-feira (18), a Prefeitura Municipal emitiu uma nota dizendo que criou uma escala para atender parte da demanda que a empresa contratada servia. Agora, com 31 ônibus e 46 motoristas a menos, entenda quais medidas estão sendo tomadas para que as necessidades da população que utiliza os coletivos sejam atendidas, e se de fato estão funcionando.
- Publicidades -
A criação da Agência de Transportes Coletivos de Palmas (ATCP) foi feita após 20 anos de uma gestão privada e turbulenta dos ônibus de Palmas, finalizar o contrato. Com isso, de três empresas que administravam todas as etapas do transporte público, apenas uma continuou atuando, sendo a Viacap responsável por 13 linhas, com total gestão dos funcionários, veículos e manutenção das frotas.
Contrato com a empresa
O Jornal Sou de Palmas (JSP), foi até a sede da Viacap, onde o supervisor da empresa, César Luiz Miranda Caetano, explicou como surgiu o problema que gerou a interrupção dos serviços: “Desde o final do contrato de concessão, em novembro, a prefeitura solicitou que desse continuidade, porque não teria condições de assumir totalmente o transporte público, pediu que rodássemos por mais dois meses para poder se programar, se resolver com compra de combustível, aquisição de peças, pois eles não tinham esse conhecimento”, afirmou César
O supervisor da empresa nos esclareceu que os serviços a princípio, continuariam até o dia 30 de janeiro, e com isso foi feito uma programação desse período, tendo recebido o valor dos gastos do serviço prestado, de forma parcelada e atrasada. “O valor do mês de dezembro foi feito no fim do mês de janeiro e o do mês de janeiro foi feito o repasso só no dia 17 de fevereiro.” Concluiu.
Os serviços continuaram a serem prestados, por conta de uma falha de comunicação da Agência em cancelar o contrato. O supervisor afirma ter feito um comunicado no mês de março, explicando que continuar os serviços seria inviável e como não foi respondido ele explica:
“Após isso foi feito uma reunião no início de abril, inclusive com a participação do presidente do sindicato dos motoristas, mas eles não compareceram, após isso foi feita uma reunião no dia 12 (de abril) entre o departamento jurídico da empresa e a gestão da Agencia de transportes coletivos, mas eles não deram uma resposta […] na última sexta-feira (14), pedimos retorno e como não responderam, nós protocolizamos um ofício junto aos órgãos, afirmando que não tínhamos mais condições de rodar e segunda-feira (17) seria o último dia”, Explicou o administrador.
César mostrou os tanques vazios onde o combustível dos veículos são armazenados, inclusive, com um ônibus parado ao lado, pois o diesel deste acabou antes mesmo que ele pudesse ter sido manobrado e estacionado na garagem do local.
Questionamos ao presidente do sindicato dos motoristas, José Antônio, a respeito dos motoristas que estão inativos devido à falta de condições de atuação. De acordo com José eles continuam indo À sede da Viacap, cumprindo o horário normal, mas impossibilitados de dirigir: “A prefeitura assumiu o sistema, mas a empresa ainda estava operando por meio de uma requisição de mão de obra desde janeiro. Agora eles pararam porque a prefeitura não está pagando”, Ressaltou.
Em nota, a Prefeitura de Palmas informou ao JSP, que o pagamento não foi feito devido estarem em fase de negociação para o encerramento da requisição de serviços: “A ATCP e a empresa estão em fase de negociação para o encerramento da requisição de serviços. A ATCP lamenta os transtornos e reforça que sua equipe está mobilizada para manter a normalidade do serviço de transporte público da Capital.” finaliza.
Consequências
Os pontos de ônibus na zona sul da cidade neste dia 18, amanheceram lotados, com esperas de até uma hora, em alguns casos com as linhas interrompidas e debaixo de uma forte chuva ainda por cima. Enquanto aguardava o ônibus para voltar do trabalho na estação Apinajé, região central, o auxiliar administrativo, Jamilson Silva desabafou: “hoje o Eixão 504 não passou. Eu to tendo que pagar para ir trabalhar, aí é sacanagem com a gente”.
Rafael Lima, amigo de Jamilson, é suporte técnico e disse à nossa equipe que o problema não é apenas na demora mas também na parte estrutural:
“O ônibus não tá demorando porque na verdade nem tá passando! Eu pego o Eixão Taquari e não teve ônibus hoje. Tive que pagar um Uber para ir trabalhar […] Todo mundo fala que os ônibus melhoraram mas quando chove molha dentro, não vi melhorar”, Ressalta o trabalhador.
Lanne Hadassa é estudante de jornalismo na UFT e segundo ela a principal diferença após o cancelamento do contrato da Viacap, foi um atraso de 40 minutos na linha 019: “Ele tem atrasado muito. Sempre passa certo de um lado, já o lado do retorno não tá passando, tá muito ruim”
Na estação 01 de Taquari, dona Édina fez um apelo à gestão do transporte público: “Mantenham os horários de 11 horas (da noite) e meia noite, porque tem muita gente que trabalha até dez horas da noite e precisa desses para chegar em casa”. Finalizou.
Solução a curto prazo
A ATCP informou ainda nesta terça-feira (18) que preparou uma escala emergencial para atender a população com o serviço de transporte público urbano na Capital, e ainda minimizar os impactos da suspensão da prestação de serviço por parte da empresa Viacap. “A linha atendida pela empresa com maior fluxo de passageiros é a 470 – Taquari, por isso ela foi priorizada na escala, assim com a linha 540 – Eixão Taquari.” Afirma a ATCP em nota.
Porém, a ATCP informou que duas linhas que eram atendidas exclusivamente pela ViaCap ficaram sem escala para os próximos dias: a 430 e a 460 que fazem rotas no Setor Jardim Aureny III, região sul de Palmas.
“Nós lamentamos os transtornos e reforçamos que seguimos mobilizados para minimizar os impactos dessa situação e retomar a normalidade do serviço de transporte público da Capital”, Diz em nota Fábio Chaves, presidente da ATCP.
E as linhas que estão inativas?
As linhas 470 e 540 mencionadas, foram citadas como os grandes atuais problemas nas entrevistas com os usuários e apresentam um número maior de demanda por parte da população. Mas, mesmo com a substituição dos ônibus dessas linhas, diversos problemas foram constatados na manhã desta quarta-feira (19), para outras linhas da região sul da capital. Algumas destas, as linhas 430 e 460 que estão inativas.
O JSP solicitou respostas à ATCP a respeito de quando as linhas interrompidas voltarão a funcionar e as formas de suprir a ausência da atuação da Viacap no transporte público de Palmas, mas não obtivemos retorno até o momento da publicação desta matéria
O coletivo nas mãos do ‘coletivo’
Ao assumir a gestão a Prefeitura de Palmas tem o poder de controlar a qualidade do serviço, Reduzir custos para os usuários, Possibilita a integração com outros modais de transporte, além de disponibilizar formas de críticas e reclamações por parte da população.
Essa ação corajosa, traz também diversas desvantagens, como um alto custo inicial, visto que a gestão precisa fazer um investimento significativo para assumir a gestão do transporte público, incluindo a aquisição de veículos e equipamentos, além da contratação de pessoal qualificado.
Também carrega um alto risco político por se tratar de uma tarefa complexa e que envolve diversos interesses e demandas, o que pode torná-la um terreno fértil para disputas políticas.
Além da rigidez operacional, pois pode pode haver uma tendência de se tornar menos flexível em relação a mudanças no sistema, tornando difícil a adaptação às mudanças nas necessidades da população ou às mudanças tecnológicas e de mercado.
Mas, assumir a gestão do transporte público é uma das formas de garantir que os interesses da população estejam em primeiro lugar. O serviço passa a ter a necessidade de ser prestado de forma a atender as necessidades da população, ao invés de atender aos interesses das empresas privadas que visam apenas ao lucro.
Ao assumir a gestão do transporte público, a Prefeitura pode garantir que a receita gerada seja reinvestida no serviço, melhorando sua qualidade e tornando-o mais acessível para a população.
O transporte público é uma ferramenta importante para a promoção da igualdade social e para a redução das desigualdades regionais. Por isso, a gestão do transporte público deve ser feita de forma democrática, com a participação da população e dos trabalhadores do setor, visando sempre a satisfação das necessidades coletivas e a justiça social.