A linguagem neutra tem ganhado repercussão no Brasil e dessa vez os holofotes foram em Palmas, nesta semana, após uma polêmica envolvendo um Projeto de Lei (PL) na Câmara da Capital.
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O tema foi levantado há cerca de dez anos pela comunidade LGBTQIA+ e hoje aparece em produções audiovisuais, em universidades e até em eventos oficiais com o Presidente Lula (PT).
Entenda o que é a linguagem neutra
A proposta da linguagem neutra é trazer para o português oral e escrito expressões nas quais as pessoas não-binárias (que não se identificam com o gênero feminino ou com o masculino) e intersexo sejam representadas.
Nela, são adotados artigos, pronomes e substantivos sem gênero definido com a alteração de letras por “e”, bem como por “@” e “x” – estas últimas, no entanto, podem ser consideradas inapropriadas por dificultarem a fala e a leitura.
Alguns exemplos são: “meninos e meninas” vira “menines” e “todos e todas” são trocadas por “todes”.
Como linguista, o Jornal Sou de Palmas ouviu a professora Fernanda Neves, mestre em linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutoranda em literatura pela Universidade de Brasília (UNB), que falou sobre sua visão acadêmica na área.
Para ela, a língua é passível de mudanças e pode receber bem alterações: ”O uso da linguagem neutra é inevitável, pois para os linguistas, a língua é um organismo vivo, que está em constante evolução e é flexível”, pontuou.
A professora deu o exemplo da palavra você, que segundo a mesma, teve origem na expressão de tratamento vossa mercê, que se transformou sucessivamente em vosmecê, vancê e você.
”Essas alterações vêm de produções sociais, o português, por exemplo, veio do latim vulgar, uma língua que já previa o uso do pronome neutro. No inglês existe o it , pronome neutro do idioma. A questão é que toda mudança causa estranhamento, vale lembrar do novo acordo ortográfico de 2019 era debatido, se devia ser adotado ou não, mas hoje estamos aí com ele, há mais de 10 anos adaptados”, exemplificou Fernanda.
Ainda de acordo com ela, trata-se de uma forma de manifestar a inclusão: ”O pronome é uma marca linguística de indicação de gênero para elementos como substantivos e adjetivos. Os neutros são categorias gramaticais. Quando tratamos de marca de gêneros, principalmente os não-binários, estamos tratando, antes de tudo, uma linguagem inclusiva vinculada ao respeito a diversidade”, destacou.
Outros exemplos de linguagens inclusivas, ressaltou Fernanda, são a língua de sinais e o braille.
Já para o estudante de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins, não-binário, Gabes Guilizin, a linguagem neutra deveria ser comum no Brasil: ”Como pessoa não-binária, adoraria que o gênero neutro fosse aceito, mas estamos longe de alcançar isso, pois às vezes as pessoas sequer são educadas o suficiente para diferenciar o ele do ela”, disse.
Porém, a pauta entrou em cena novamente durante a manhã desta quinta-feira (16), e os parlamentares decidirão se o veto do PL deve ser derrubado ou não na próxima terça-feira (21), com determinação definitiva na quarta-feira (22), de acordo com o Presidente Folha (PSDB).
Também no período da manhã, a Casa de Leis ficou lotada e passou por transtornos após protestos de palmenses contra a linguagem neutra.
Segundo o vereador Rubens Uchôa (União Brasil), o intuito de uma nova votação para os parlamentares é consolidar o PL inicial de proibição: ”É uma forma de prevenção, temos que pensar no futuro”, argumentou ele.
O que diz o PL
O Projeto de Filipe Martins configura a proibição da linguagem neutra na grade curricular e no material didático de escolas privadas públicas e em editais de certames na Capital. Além disso, a proposta também apresenta punições para quem decumprir a medida.
Envie sugestões de pauta ou denúncia para o WhatsApp do Jornal Sou de Palmas: (63) 992237820