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Contas no Facebook e no Twitter com fotos de Eric Harris e Dylan Klebold e comentários em vídeos no YouTube chamando os perpetradores do massacre de Columbine de “heróis” não deixam dúvidas: o assassinato em massa na pequena cidade do Colorado que aconteceu em 1999 teve ares de um marco da cultura pop.
Mas a influência dos dois jovens supera os limites das redes sociais. O massacre de Suzano, também cometido por dois jovens, foi inspirado no que aconteceu nos EUA há 20 anos.
Em posts nas redes sociais, os assassinos de Suzano, que também cometeram suicídio após matarem outras oito pessoas, deixaram clara a inspiração e o fascínio que Columbine lhes causava.
Em 1999, quando Harris e Klebold mataram 13 pessoas na escola onde estudavam, a internet ainda não era tão presente no cotidiano quanto é hoje. Ainda assim, Harris possuía uma espécie de blog onde fazia publicações que deixavam claro seu comportamento violento.
Como as empresas de internet reagem ao ódio
Quase 20 anos depois, a internet e as redes sociais rodeiam quase todos os aspectos de nossas vidas. O massacre de Christchurch, onde 50 pessoas foram mortas, foi transmitido ao vivo pelo Facebook.
Identificar e filtrar discursos de ódio nessas plataformas é uma tarefa árdua, já que ele se reproduz em imensa rapidez. Além disso, não existe uma legislação que controle as redes sociais e toda a avaliação de conteúdo é feita dentro da própria plataforma.
Segundo o Facebook, os limites entre o que é discurso de ódio, ofensas e opiniões dos usuários depende do contexto em que está inserido. O R7 enviou para a plataforma perfis que usavam as identidades dos atiradores e os homenageava, que foram removidos pois violavam a política da empresa.
Também existem perfis e homenagens semelhantes no Twitter, mas a empresa afirmou que não comenta perfis isoladamente.
No dia do aniversário de Eric Harris, uma hashtag com 270 tweets parabenizando o assassino circulou pelo Twitter com elogios e fotos do crime. Essa postura se enquadraria na violação do padrão “glorificação da violência” da rede social. A punição seria a exclusão dos posts e as contas deveriam ser colocadas sob análise, mas isso não aconteceu.
Das redes para os chans
As plataformas acima possuem canais onde esses perfis podem ser denunciados por outros usuários. Assim, os praticantes de discurso de ódio tiveram que encontrar um lugar seguro, onde pudessem praticar seus preconceitos sem retaliações. É o surgimento dos chans.
Segundo a Marie Declercq, jornalista da VICE e pesquisadora de grupos de ódio e extremistas, o termo chans vem de “channel” (canal em tradução livre do inglês), e são uma espécie de fóruns de discussão na internet onde um participante anônimo posta uma imagem e a partir dela se cria uma linha onde outros usuários (também anônimos) interagem entre si.
O anonimato é a maior diferença do chans para as outras redes sociais, logo “é inevitável que muitos grupos de pessoas com ideias preconceituosas — seja neonazistas, misóginos, celibatários involuntários (homens que culpam as mulheres pela falta de vida sexual) — migram para esses espaços virtuais para disseminarem ódio”, afirmou Marie.
Atualmente, mesmo com a aproximação da data dos 20 anos do massacre, os posts sobre os assuntos foram pífios e que o assunto se perde em meio a “memes e piadas”, segundo os relatos de Marie. No entanto, em alguns chans Columbine continua a ser celebrado, assim como os casos de Realengo e Suzano — que se inspiraram no massacre de 20 de abril de 1999.
Ao contrário do que se imagina, o chans não são exclusivamente um local de disseminação de ódio. Muitas das pessoas que estão nesses fóruns estão ali para discutir sobre outros assuntos como filmes e mangás. Marie ainda ressaltou que muitos dos memes que são vistos hoje na “superfície” da internet surgem nesses fóruns.
“Por mais que tenha muita gente lá que não seja ruim, eu considero um ambiente tóxico e que pode fazer mal para a saúde mental, assim como eu considero o Facebook um lugar horrível. Hoje em dia, eu acho que grupos fechados do Facebook são tão tóxicos quanto os chans, por incrível que pareça”, argumenta.
Os columbiners
Sobre os atiradores de Columbine, Marie disse ao R7 que eles não são tão celebrados nos chans e sim em fandons, nomeados de “columbiners”, no Tumblr.
Os columbiners são “fãs dos atiradores ou aficionados pelo massacre passam grande parte do dia deles discutindo sobre os atiradores ou promovendo um tipo preocupante de revisionismo histórico do ataque, tentando minimizar os atos deles”, segundo Marie.
Rachel Monroe, autora do livro “Savage appetites: four true stories of women, crime and obsession” (Apetite selvagem: quatro histórias de mulheres, crimes e obsessão, em tradução livre) explica que esse rótulo é destinado a adolescentes que idolatram Eric e Dylan.
Monroe explica que esse fenômeno acontece porque os dois jovens foram tratados como celebridade pela imprensa na época do massacre.
“Às vezes há um aspecto de amor não correspondido — como estrelas pop ou personagens fictícios, Eric e Dylan são atraentes porque são inatingíveis. Eles também têm a reputação de serem figuras más e rebeldes, o que talvez seja atraente para algumas meninas”, destaca.
Além disso, os rapazes também se inspiram nos assassinos. A autora conta que é até mais fácil para os meninos se colocarem nos papéis de Eric e Dylan.
Nesse ponto, os assassinos se transformaram em exemplos a ser seguidos. A comunidade Columbiner também pode incentivar outros jovens a praticarem atos semelhantes em busca de notoriedade.
Já aconteceram pelo menos 30 ataques, onde os responsáveis confessaram inspiração em Columbine.