Ao se deparar com uma criatura incomum no pé de manga do quintal de casa, em Piracicaba (SP), a administradora Marisa Gonzales ficou intrigada. “Parecia até uma estrela-do-mar, mas óbvio que não era”, recorda. O animal, com aparência exótica, chamou atenção pela forma e pelas estruturas que pareciam pequenos tentáculos. A descoberta inesperada revelou uma espécie rara de lagarta chamada Phobetron hipparchia.
Originária da América Central e América do Sul, a Phobetron hipparchia pertence à família Limacodidae, grupo que tem cerca de 100 espécies registradas no Brasil. Segundo o biólogo Guilherme Fischer, a característica mais marcante dessa lagarta são os tubérculos — estruturas laterais semelhantes a tentáculos — que funcionam como mecanismo de defesa. Quando ameaçada, a lagarta pode soltar esses apêndices, que confundem o predador e permitem sua fuga.
Como vive essa espécie?
Durante a fase larval, a Phobetron hipparchia se alimenta de folhas de arbustos e árvores. Após a metamorfose, já como mariposa adulta, ela não se alimenta mais por não possuir um aparelho bucal funcional. Mesmo assim, sobrevive entre uma a duas semanas utilizando as reservas de energia acumuladas.
Morfologicamente, machos e fêmeas diferem na coloração e nas asas. Os machos tendem a ser mais escuros e possuem asas com pequenas áreas translúcidas, enquanto as fêmeas apresentam tons alaranjados e corpo maior. Ambos compartilham um mecanismo de camuflagem que imita fezes de aves, uma estratégia para evitar predadores na fase adulta.
Importância ecológica e curiosidade pública
Apesar da aparência incomum, a lagarta é totalmente inofensiva ao ser humano em qualquer fase da vida. O caso chamou atenção não apenas pela raridade da espécie, mas também pela reação de surpresa e curiosidade ao ser encontrada em ambiente urbano.
O especialista reforça que momentos como esse devem ser encarados como oportunidades para aprofundar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira. “A natureza nos surpreende o tempo todo. Quando encontramos algo que não conhecemos, é um convite para observar, aprender e respeitar o ecossistema que nos cerca”, afirma Fischer.