Com a canção “Balada de Gisberta”, Maria Bethânia dá voz a história e luta contra o preconceito da travesti brasileira imigrante em situação de rua, Gisberta Salce Júnior, assassinada em Portugal no ano de 2006. O caso tomou grandes proporções, visto que ela era tratada publicamente como “um homem com mamas”. Todavia, a arte tem como uma de suas infinitas possibilidades a retratação de diversas realidades, nem todas com final feliz, e Maria Bethânia eternizou o caso na canção.
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Sendo o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, o Brasil ocupa o topo do ranking há 13 anos consecutivos, período em que os dados são registrados. Diante disso, vivências dessa comunidade recebem holofotes em canções, filmes, documentários, séries e livros que retratam os preconceitos sofridos. Comovido com uma história em particular, o policial penal da Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju), Jenaldo Taveiro, que atuou por anos na área da saúde, relatou a história de uma mulher transexual, nomeada de modo fictício como Samanta, em um livro intitulado “Paciente do Leito 16”, como ela era chamada no hospital onde se conheceram.
História comovente
No livro, o policial penal relata como encontrou Samanta no seu primeiro dia no hospital onde fazia estágio de conclusão da graduação do curso de enfermagem. Em seu primeiro contato com a “Paciente do Leito 16” internada sozinha e isolada em um quarto, ele deu bom dia com um sorriso, chamando-a pelo nome. Nas conversas, Samanta confidenciou que era garota de programa e frequentava esquinas, até que em um dia, dois homens a agrediram nas ruas e desferiram várias facadas contra ela.
O policial penal conta que ela vinha apresentando melhoras, até que o pior aconteceu. Samanta havia falecido. Diante disso, o escritor revela um momento crucial para a decisão de escrever um livro sobre a história de Samanta, ainda vista como “A paciente do Leito 16” até no momento da morte. “Ali, prometi que escreveria sua história para que ela não se tornasse apenas uma estatística”, declarou.
Apesar disso, os manuscritos ficaram guardados por anos, mas voltaram à tona após um sonho de Jenaldo com Samanta, no qual ela o questionou o porquê de ainda não ter publicado o livro, relembrando-o da promessa feita no necrotério. “Ela estava bem vestida, eu sentia o cheiro dela, o perfume. Ela me abraçava, me chamava de doutor, dizia que estava com saudade e que havia reencontrado a mãe e a avó que a buscaram quando ela desencarnou. Quando acordei, motivado pelo sonho, enviei para cinco editoras que aceitaram prontamente, mas optei pela que senti mais conexão”, relatou.
Publicação do livro
O que iniciou com um olhar de atenção para Samanta, no fim se tornou uma amizade. “Quis entender o que se passou na vida dela, quais eram suas expectativas, de onde ela tinha vindo e nos tornamos amigos”, descreveu. E no mês do Orgulho LGBTQIA+ e da campanha contra o preconceito sofrido por essa comunidade e suas reivindicações por direitos básicos, o livro que narra a história de Samanta e sua luta pela sobrevivência está disponível para pré-venda pela Editora Viseu neste link.
Combate à discriminação
Para combater o preconceito e a discriminação que mata pessoas trans no Brasil e no mundo é preciso uma transformação social com conteúdos sobre direitos, pluralidade de gênero e também ressaltar a denúncia como um mecanismo de erradicação da transfobia. Nesse viés, a Seciju trabalha na articulação de políticas públicas que garantam esses direitos e com informações a respeito de violação de direitos humanos sofrida pela população LGBTQIA+ e que devem ser denunciadas pelo Disque 100, aplicativo Direitos Humanos Brasil ou Disque 190.
“As pessoas devem aproveitar essa oportunidade para furar bolhas sociais e ter um olhar de empatia para com os outros, principalmente pessoas trans e travestis, que têm história, vida, desejos, sonhos”, refletiu, por fim, o escritor.
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