Palmas – A Justiça iniciou as audiências para ouvir testemunhas, parentes e vítimas no caso da clínica de reabilitação de Palmas, acusada de manter pacientes em cárcere privado. Em fevereiro deste ano, 70 homens foram encontrados no local, e pelo menos 50 relataram maus-tratos e a administração de sedativos. A audiência de instrução é conduzida pelo juiz titular Cledson José Dias Nunes, na 1ª Vara Criminal da Capital. Ao todo, 41 vítimas serão ouvidas, além de quatro parentes de ex-pacientes e 23 testemunhas de acusação e defesa. Os administradores da clínica são acusados de sequestro e cárcere privado.
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Calendário das audiências
Devido ao grande número de pessoas a serem ouvidas, a audiência será realizada em oito datas diferentes, conforme calendário definido em cooperação entre as partes. No dia 7 de agosto, 23 ex-pacientes foram ouvidos. Em 8 de agosto, serão interrogadas vítimas e informantes indicados pelo Ministério Público (MP). As testemunhas de acusação serão ouvidas nos dias 9, 12 e 13 deste mês. Nos dias 26, 27 e 28, será a vez das testemunhas de defesa e dos acusados. A defesa dos acusados informou que só se pronunciará após o avanço da instrução criminal.
Relembre o caso
Em 6 de fevereiro, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na clínica após denúncias de maus-tratos. A clínica atendia pessoas em reabilitação contra álcool, drogas e até portadores de deficiência, mas não possuía a documentação necessária. Segundo a denúncia, os administradores privavam os pacientes de tratamento de saúde adequado, obrigavam-nos a realizar trabalhos excessivos e usavam meios de correção inadequados. A polícia encontrou ligações irregulares de energia elétrica e um “buraco da punição” onde pacientes eram colocados. As investigações começaram em novembro de 2023, quando um paciente denunciou agressões físicas e psicológicas na 1ª Central de Atendimento da Polícia Civil, em Palmas.
Depoimentos de pacientes
Os agentes que realizaram as buscas na clínica encontraram muita sujeira nos quartos coletivos e um forte odor de suor e urina. Os internos relataram que eram obrigados a realizar trabalhos forçados e, como punição, tomavam sedativos chamados ‘danone’. O contrato para tratamento não era adequado, conforme a denúncia. A promotoria teve acesso a documentos que afirmavam que a clínica oferecia ‘reintegração baseada na espiritualidade’. Muitos pacientes relataram que foram internados involuntariamente, e os parentes eram enganados quanto às condições do estabelecimento. Um paciente afirmou que entrou voluntariamente, mas foi impedido de sair devido à multa contratual. Outro relatou que não passou por nenhum atendimento médico que autorizasse a internação.