Sob a sombra de mangueiras e baruzeiros, no distrito de Taquaruçu, em Palmas, há um lugar onde duendes espreitam entre galhos, pedras e risadas. É ali que Nilton Nascimento dos Santos, o “Duende de Taquaruçu”, vive com sua companheira de arte e de vida, Gleidimar Honório Bitencourt. Juntos, eles transformaram o que um dia foi o lixão do distrito em um quintal vivo de reflorestamento, memória e miniaturas mágicas feitas com resina vegetal, pigmentos naturais e sobras de obras. O que era descarte virou arte. O que era esquecimento virou atração.
“Se eu corto um galho aqui, me machuco. É a lei do retorno. A gente cuida e respeita”, diz Nilton, com a voz de quem conversa com árvores.

De viagem passageira a raízes profundas
A chegada do casal a Taquaruçu foi quase acidental. “A gente ia passar uma semana aqui. Já são 21 anos. Esquecemos de ir embora”, resume Nilton, com o bom humor que cativa visitantes. O convite surgiu de um amigo em um festival de malabares. Ele falava das cachoeiras do Tocantins e da energia da região. Nilton não pensou duas vezes: foi, ficou e plantou.
Plantou duendes e também manga, jaca, baru. Tudo no mesmo terreno que um dia recebeu toneladas de lixo. “Cavei cinco metros e ainda achei plástico, sandália… tudo que tem aqui, a gente plantou”, conta. Hoje, o espaço virou referência de turismo alternativo no distrito.

A magia está nos detalhes e nos materiais
Os duendes produzidos por Nilton são feitos com resina natural (leite da mangaba), tintas de origem vegetal e pedras recolhidas entre sobras de obras. “Nada de tirar pedra de rio. Uso só o que foi descartado. Granito é a mãe de todas as pedras”, explica o artesão, que aprendeu desde cedo a respeitar a natureza com sua avó.
Na tradição europeia, os duendes são seres místicos ligados à proteção das florestas. Para Nilton, descendente de holandeses e irlandeses, isso é coisa de sangue. “Minha avó dizia que minha barba era de duende. E é nela que carrego a arte”, brinca.
Os bonecos carregam mensagens de prosperidade, amor e equilíbrio — e, para quem acredita, até afastam o mau-olhado. Já foram feitos duendes músicos, com luzes, bateria, palco; até versões eróticas. No auge do turismo local, a produção chegava a 300 peças por semana. Hoje, com o fluxo mais calmo, fazem cerca de 20, mas já venderam mais de um milhão de unidades ao longo de duas décadas.

Arte, resistência e economia criativa
Nilton e Gleidimar participam de feiras, eventos culturais e pretendem expor seus trabalhos na FENEARTE, a maior feira de artesanato da América Latina. Ele tem carteira profissional de artesão, garantindo acesso a políticas públicas e reconhecimento formal.
Além do artesanato, Nilton também canta e toca em bares da região. “A arte sempre nos sustentou, mesmo nas fases mais difíceis. Tudo o que ganhamos foi com trabalho nosso, com a força da nossa criatividade.”
E quem visita o local, encontra mais do que peças à venda: encontra um espaço de convivência com a natureza, cercado de esculturas espalhadas pelo mato, num cenário encantado que virou parada obrigatória para turistas e moradores.
O setor no Tocantins e no Brasil
A história de Nilton e Gleidimar reflete a importância econômica e cultural do artesanato no país. Segundo a coordenadora do Artesanato no Sebrae Tocantins, Celina Soares, são cerca de 8,5 milhões de artesãos no país, que movimentam aproximadamente R$ 102 bilhões por ano. Desse total, R$ 50 bilhões correspondem à receita gerada diretamente pelo setor.
Já a analista do Sebrae, Adelice Novak, destacou os esforços para quem empreende na bioeconomia.
Em tempos de padronização industrial, o Duende de Taquaruçu lembra que é possível viver da arte feita à mão, conectada à terra e às histórias.
“Só a sua presença já é nossa força. Vem ver os duendes”, convida Nilton. E, como quem fecha uma apresentação mágica, emenda cantando:
