Artigo – É impressionante a quantidade de escândalos de todos os tipos que têm sido descobertos nos últimos dez dias, desde denúncias de abuso na esfera religiosa, corrupção política e muitas traições conjugais, que em sua maioria acabam de maneira trágica e fatal.
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Isso já foi fonte de inspiração para filmes, músicas e poemas, as canções “Mente pra mim” de Cristiano Araújo, “Mentes tão bem” por Zezé di Camargo e Luciano, o filme “De olhos bem fechados” de Stanley Kubrick e a máxima do dramaturgo Nelson Rodrigues: “Mintam! Mintam, por misericórdia”, nos revelam que as pessoas parecem ter uma tendência autosabotadora de sempre acreditar nas mesmas mentiras e ser iludidas a respeito de si mesmo e das pessoas com quem se relacionam seja na política, nos relacionamentos amorosos, na parceria de negócios ou na religião, muitos acabam nutrindo um senso de dependência de pessoas manipuladoras.
Claro que, se sairmos agora na rua e questionarmos a qualquer pessoa o que ela pensa sobre mentiras e manipulações, certamente qualquer um responderia que é horrível, ninguém gosta, certo? Na prática, parece ser diferente. Existem diversas histórias de pessoas que viveram por anos sendo enganadas (até mesmo traídas) e tudo permaneceu tranquilo, até o momento da grande revelação, entretanto, boa parte das pessoas que já foram enganadas por seus companheiros, por seu político ou por seu líder espiritual, revelaram em uma conversa mais sincera que “sempre desconfiaram” ou já sabiam, mas não queriam chutar o balde, para não deixar as coisas ainda piores ou por já estarem acostumadas com a vida daquele jeito mesmo. Percebemos com isso que, o que as pessoas detestam na verdade é que a farsa seja revelada, porque ficam mal faladas ou se sentindo humilhadas, mas se tudo estivesse encoberto ainda, tudo bem!
Somos seres muito complexos, pois uma vez que levamos mais em consideração a nossa imagem ante a sociedade do que nossos princípios e convicções, acabamos nos tornando um produto do meio, como se fossemos mais uma engrenagem que contribui para que sistemas de corrupção, traição e exploração da fé alheia, continuem funcionando e financiando pessoas mal caráter.As pessoas frequentemente preferem acreditar em algo confortável em vez de enfrentar uma verdade dolorosa. Esse fenômeno é conhecido como “autoengano”. A negação pode servir como um mecanismo de defesa para proteger a mente de um sofrimento imediato, mesmo que isso signifique prolongar um sofrimento a longo prazo.
A dependência emocional e financeira de parceiros, líderes políticos ou religiosos pode criar um ciclo vicioso onde o medo da perda de suporte ou de uma rede de segurança impede as pessoas de confrontar a realidade. Esse tipo de dependência pode ser explorado por manipuladores que usam o medo e a incerteza como ferramentas de controle. Ao evitar confrontar a verdade, as pessoas contribuem para a perpetuação de sistemas corruptos e abusivos. Esse comportamento fortalece estruturas de poder que dependem da manipulação e do controle.
A questão do autoengano e da manipulação é intrincada, enraizada em aspectos psicológicos, sociais e culturais. Reconhecer essas dinâmicas pode ser o primeiro passo para romper com ciclos de manipulação e buscar uma vida mais autêntica e íntegra. Afinal, a verdade, por mais dolorosa que seja, pode libertar e pavimentar o caminho para um futuro mais honesto e transparente.
Wesley Santos
Professor e Pesquisador