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Presidente da produtora Dell’Arte, Myrian Dauelsberg era amiga de Nelson Freire era um prodígio de piano de 11 anos de idade e tinha aulas com uma das amigas da sua mãe. A vida os uniu ao longo dos muitos concertos dele que ela produziu e não os separou mais: Myrian esteve com o pianista até o começo da noite de domingo, ouviu-o tocar a primeira parta de “Barcarola” e combinaram um encontro para a segunda-feira – que não aconteceu porque, num surto psicótico, por volta das 23h, ele teve uma queda que provocou sua morte, por concussão cerebral.
“Nelson vinha para Petrópolis passar uns dias comigo. Estava muito deprimido, achava que nunca mais ia tocar piano, não queria fazer mais nada e de uns tempos pra cá deixou de atender o telefone”, conta Myrian, em depoimento ao GLOBO.
Segundo a produtora, a mão direita de Nelson Freire andava muito enferrujada para o piano:
“Depois do acidente (uma queda no calçadão da Barra, em outubro de 2019, na qual fraturou o braço direito), ele parou de tocar, mas por insistência de amigos ele até ia ao piano, mas não ficava muito tempo, ele dizia que sentia uma dor horrível no ombro quando tocava”, disse.
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“Os médicos diziam que isso era da cabeça dele, que era uma psicose, porque o copro permitia que ele fizesse todos os movimentos. O Nelson não se entendia com os médicos e não tomava os remédios, ele era muito teimoso”, contou.
Myrian Dauelsberg testemunhou que a pianista argentina Matha Argerich, grande amiga de Nelson Freire, pediu ao pianista Arthur Moreira Lima para substituí-la na banca do Concurso Chopin, em Varsóvia, para poder ficar mais perto do amigo. Segundo a produtora, Martha só saiu do lado de Nelson para tomar a vacina da Covid-19 e assim poder voltar para a França, cerca de quatro dias atrás, para uma série de concertos.
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“Ela estava preocupadíssima com o Nelson, eles tinham uma ligação muito especial, era um amor que transcende o lado humano. Tanto que quando fui pegá-la para ir ao aeroporto, ela já estava no carro e aí pediu para voltar um momentinho”, disse.
“Entrou em casa e tocou para ele um tema de umas variações de Schubert, que eles costumavam executar juntos. No carro, ela me disse: ‘Você sabe o significado das palavras dessa peça?’ Era ‘eu te amarei a vida toda'”, disse.
Em julho de 2018, Nelson Freire fez seu último concerto no Municipal do Rio, em evento produzido pela Dell’Arte.
“Estávamos fazendo tudo para que ele voltasse. O Steffen, meu filho, dizia: ‘Olha, estamos contando com você, precisamos da sua força para recuperar o público!’. O Nelson ria e não dizia nem que sim, nem que não. Ele nasceu com essa facilidade demoníaca para tocar piano, eu dizia que ele ia fazer exercícios de escalas e arpejos até voltar a ser o que era e que eu ia ficar do lado, que nem professora”, recorda-se Myrian Dauelsberg.