A quadrilha que por 16 anos dominou morros da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, gastava pelo menos R$ 500 mil em propinas para a PM todos os meses. No topo do esquema estava Fernandinho Guarabu, o traficante mais procurado do Rio, morto em confronto na última quinta-feira (27) ao lado de quatro comparsas.
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O rastro do dinheiro foi seguido pela Operação Repugnare Criminis, que culminou na morte dos chefes dos morros do Dendê e do Guarabu. Segundo as investigações, uma rede de propinas e práticas assistencialistas os mantiveram no poder.
De acordo com policiais, Fernandinho Guarabu pagava propinas para policiais corruptos. Num plantão de fim de semana chegava a desembolsar R$ 1.500 por policial, só para que não houvesse qualquer operação em dia de baile funk, evento que atraía jovens de classe média de toda a cidade.
Mortos na ação
Fernando Gomes Freitas, o Fernandinho Guarabu, traficante mais procurado do RJ;
Gilberto Coelho de Oliveira, o Gil ou Incrível Hulk, amigo de infância de Guarabu e seu braço direito;
Antônio Eugênio, o Batoré, ex-PM e responsável por explorar vans na região;
Paulo Cesar da Costa, o Piu, apontado como sucessor do chefe;
Tiago Farias Costa, o Logan, responsável pelo tráfico em localidades da Baixada.
A Operação Repugnare Criminis mirava policiais corruptos que se aliaram a Guarabu e foi cumprir 34 mandados de prisão. Informações da inteligência davam conta de que os chefes do tráfico estavam reunidos no Dendê, e a polícia acabou os encontrando.
A rede de propinas não se limitava ao que era pago pelos homens de Guarabu a policiais. Investigadores descobriram que PMs donos de depósitos de gás transferiam até R$ 80 mil por mês à quadrilha para revender botijões nas favelas.
Durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em residências em favelas na Ilha do Governador e em diferentes batalhões da Polícia Militar, a Corregedoria da corporação encontrou R$ 40 mil até as 15h desta quinta-feira (27). O dinheiro estava em armários de policiais militares e em residências de comerciantes de gás.
Com a morte dos cinco, a polícia investiga agora quem vai assumir a quadrilha.
Ostentação de joias e armas
Guarabu e Gil viviam no alto da comunidade ostentando uma vida entre joias, armas e banhos de piscina.
Imagens obtidas pelo G1 mostram que Guarabu e Gil gostavam de pulseiras e cordões dourados com adereços do personagem Hulk, das histórias em quadrinhos e do cinema. As joias que os criminosos usavam não foram encontradas pelos PMs.
Aliás, esse era o apelido pelo qual Gil gostava de ser chamado. A cor verde predominava em armas e até no rádio usado pelo criminoso. Nesta quinta, a pistola não foi encontrada. Apenas o coldre e o radiocomunicador.
O kit de arma que pertencia aos traficantes da Ilha do Governador — Foto: Divulgação
A adoração pelo personagem era tanta, que Gil colocou um boneco junto à piscina privativa usada pelo bando no alto do Morro do Dendê.
Uma outra piscina comunitária foi construída para atender os moradores. Em datas festivas, os criminosos organizavam festas e distribuíam presentes. Mas o dia a dia da dupla não se limitava a banhos de piscina e joias.
O Disque-denúncia oferecia R$ 30 mil de recompensa para quem desse informações que levasse à prisão de Guarabu. Contra ele havia 14 mandados de prisão.
O traficante chegou a construir uma igreja evangélica no Morro do Dendê e proibiu outras religiões na comunidade da Ilha do Governador.
Guarabu, certa vez, segundo os policiais, chamou uma equipe de PMs ao morro para uma conversa. No encontro, o bandido anunciou a um policial que pagaria a festa de 15 anos da filha.
Em outubro de 2014, a operação Ave de Rapina, desencadeada também pela Secretaria de Segurança, tentou desbaratar o esquema de propinas que ajudava a manter a dupla em liberdade: 14 PMs do batalhão da área foram presos.
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