- Publicidades -
Surgida em Cabo Frio, que chegou a ser chamada de “Novo Egito” por conta da profusão de empresas prometendo lucros exorbitantes mediante supostos investimentos em criptomoedas, a GAS Consultoria, do ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, conseguiu alçar voos bem longe da cidade na Região dos Lagos. Na denúncia em que pediu a prisão de Glaidson, conhecido como “faraó dos bitcoins” , e enquadrou outros 15 integrantes do grupo por crime contra o sistema financeiro, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que a organização já atuava, àquela altura, em pelo menos sete países além do Brasil.
As ramificações da empresa espalhavam-se por quatro continentes. Na América do Sul, além das atividades internas, o grupo também estava presente em Colômbia, Uruguai e Paraguai. Na América do Norte, o braço era nos Estados Unidos. A organização também agia na Europa, no Reino Unido e em Portugal, e na Ásia, mais precisamente nos Emirados Árabes Unidos, no Oriente Médio. Nestes locais, segundo o texto elaborado pelos promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), as movimentações ligadas à GAS “em qualquer de seus segmentos” incluíam, por exemplo, a “captação ouaplicação de recursos e emissão, distribuição ou negociação de valores mobiliários”.
Ainda de acordo com o documento, obtido pelo GLOBO, a expansão do grupo para o exterior vinha acelerando. Esposa de Glaidson, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, de 38 anos, cooptava investidores em seu país natal e no México, bem como nos já citados Colômbia e Paraguai. Também denunciada pelo MPF, Mirelis encontra-se foragida em Miami, nos Estados Unidos, para onde seguiu semanas antes da prisão do marido, e teve o nome incluído na difusão vermelha da Interpol.
Uma outra investigação, essa da Polícia Civil do Rio, também encontrou indícios da atuação crescente da organização no exterior. A Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro descobriu que Glaidson vinha articulando a abertura de um escritório físico em Portugal. Em uma conversa captada com autorização da Justiça a partir da quebra do sigilo telemático, o ex-garçom chega a citar o endereço no qual o negócio funcionaria, em uma valorizada região de Lisboa.
Leia Também
Leia Também
A capilaridade das atividades comandadas por Glaidson também era comprovada pela presença da organização em pelo menos 13 estados do Brasil, conforme consta na denúncia do MPF. “Essas circunstâncias evidenciam o altíssimo risco sistêmico doesquema criminoso”, frisam os promotores no texto. “Não bastasse, já estão sendo identificadas informações concretas arespeito da utilização do grupo GAS para a injeção de recursos oriundos de outroscrimes graves, como tráfico de drogas e milícia, segundo apontado no relatório finalda autoridade policial”, pontua o documento em seguida.
Leia Também
“Glaidson dos Santos e Mirelis Zerpa teriam arregimentando pessoas de sua confiança, trazendo-as ao grupo criminoso,encarregando-lhes de liderar escritórios e equipes (espalhados em diversos pontos do territórionacional e até mesmo no exterior), que teriam operacionalizado a emissão e a oferta ao públicodos contratos de investimento coletivo em nome da Gas Consultoria”, detalha ainda a denúncia. No entender do MPF, o casal adotou este tipo de estratégia “para expandir o alcance das suas atividadesespúrias e aumentar o capital em seu poder”.
Presos desde 25 de agosto, durante a Operação Kryptos, da Polícia Federal, Glaidson e outros comparsas são acusados principalmente de crimes contra o sistema financeiro nacional e de organização criminosa. Eles foram denunciados por gerir fraudulentamente instituição financeira e emitir, oferecer e negociar títulos sem registro prévio junto à autoridade competente, usando em seu lugar declaração falsa de instituição financeira.
O julgamento de um pedido de habeas corpus em nome de Glaidson estava previsto para ocorrer semana passada no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), mas a decisão acabou adiada após solicitação da defesa do ex-garçom, que trocou de advogados recentemente, pela segunda vez. Anteriormente, o mesmo TRF-2 negou ação semelhante de outro integrante do grupo, Tunay Lima.
Para mantê-los em prisão preventiva, o Ministério Público Federal (MPF) alega que as investigações constataram risco de fuga, ameaça a pessoas e evasão de recursos que se encontravam com a organização. Quando deteve Glaidson na casa de um amigo na Barra da Tijuca, a PF constatou que ele tinha as malas prontas.