No período entre janeiro e outubro deste ano, o Brasil registrou cerca de 48,4 mil novas distribuidoras de bebidas. Em relação a 2019, houve um aumento de 76%, quando se tinha 27,5 mil empresas abertas desta categoria.
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Além disso, 2020 quebrou – pela segunda vez – o padrão da série histórica e marcou uma queda no número de distribuidoras de bebidas encerradas. Até outubro deste ano, 12,7 mil empresas fecharam; em 2019, tinham sido 15,4 mil.
A quantidade de novos empreendimentos abertos e a taxa de crescimento são as maiores registradas pelo menos desde 2010. Os dados são da Receita Federal.
Na prática, o número de novas empresas do setor tem crescido ano após ano (com exceção de 2018, quando se manteve estável). No entanto, há 10 anos o país não registrava um crescimento tão forte como nesses últimos meses – mesmo com a quarentena em todo o país devido à pandemia do coronavírus.
O analista de relacionamento com o cliente do Sebrae Ivan Tonet explica que a alta pode ser explicada pelo processo de digitalização impulsionado pelas medidas restritivas usadas para mitigar a circulação do novo coronavírus.
“Naturalmente se tem o crescimento de atividades de varejo de bebidas, mas, na pandemia, a gente também teve um aumento de comercialização pelo e-commerce, o que ajuda a entender essa alta”, conta.
Os meses que registraram os maiores números em 2020, inclusive, foram justamente após o estopim da crise do coronavírus no país. Julho, agosto, setembro e outubro tiveram, cada, mais de 6 mil novas distribuidoras no país.
Até então, o maior saldo de toda a série histórica havia sido registrado em junho deste ano, com 4,8 mil novos comércios varejistas de bebidas. Em janeiro de 2019, por exemplo, pouco mais de 4 mil empresas foram abertas no setor.
O empresário André Victor, de 24 anos, faz parte desse vasto grupo. Ele abriu, ao lado de outros dois sócios, uma distribuidora de bebidas – batizada de Me Salva – na Asa Norte, em Brasília (DF), no último mês de novembro.
“A gente já tinha essa ideia há um tempo. E, aí, com o fato de a pandemia ter chegado, a gente viu essa dificuldade de ter que sair de casa para comprar bebida. Então a gente vende muito mais focado nessa parte de delivery”, diz.
Fator pandemia
Dessa maneira, a pandemia do novo coronavírus, segundo ele, não foi um problema, mas um fator positivo para a abertura do comércio. Foi por causa da crise também que ele conseguiu um “preço bacana” de aluguel da loja.
“Pelo contrário, a gente usou esse medo para querer abrir e falamos: ‘Agora é a nossa hora’. O nosso comércio é bom para o delivery, e a pandemia ajudou com isso. A gente entrega em todo o Plano Piloto”, completa.
O empresário Mauro Antônio, que inaugurou a Pontual Beer’s em 2005, em Belo Horizonte (MG), tem sentido o peso da concorrência cada vez mais. “É uma distribuidora a cada esquina. Só na minha rua tem três”, afirma.
O sentimento dele, porém, também é positivo sobre a pandemia. Ele diz que elevou o número de funcionários na empresa por causa da alta nas vendas – algo pouco comum hoje no país, que registrava no fim de novembro um número recorde de 14,1 milhões de desempregados.
“Não teve aumento de gastos para mim. Foi realmente um crescimento. Alguns itens pararam de sair, mas outros estão saindo bem mais. Antes, a gente vendia muita cerveja retornável para os bares, hoje vendemos mais latão”, conta.
Alta do consumo
O crescimento do número de comércios varejistas de bebidas acompanha a trajetória do consumo de álcool no país, que também apresentou alta durante a pandemia do novo coronavírus, segundo vários levantamentos divulgados.
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada no último dia 18, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 26,4% da população adulta afirmou ter bebido semanalmente em 2019, ante 23,9% em 2013.
A alta foi registrada sobretudo entre as brasileiras: 17% das mulheres adultas afirmaram ter bebido uma vez ou mais por semana no ano passado. O índice de 2019 é 4,1 pontos percentuais maior do que era em 2013 (12,9%).
Outra pesquisa, feita pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opan), apontou que 42% dos brasileiros relataram alto consumo de álcool durante a pandemia de Covid-19. Os dados foram coletados entre maio e junho deste ano.
O estudo também revelou que houve maior prevalência entre os jovens do beber pesado episódico – ou seja, consumir mais de 60 gramas de álcool puro (cerca de cinco bebidas alcoólicas padrão) ao menos uma vez no mês.
“A gente tem pessoas que já consumiam, consumindo mais; e pessoas que não consumiam chegando no mercado. E elas vão replicar isso”, avalia o analista de relacionamento com o cliente do Sebrae.
“Pode ser que a gente esteja vendo o que é um piso para o crescimento de consumo de bebidas no mercado brasileiro e, portanto, deve ser encarado como uma oportunidade, sempre olhando para o digital”, complementa Tonet.