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Lapa, sábado à noite, e as filas para entrar em casas noturnas do bairro boêmio dobram quarteirões. Ninguém reclama do tempo de espera: a sede por um embalo é grande, após um ano e meio com as pistas de dança — no caso, as que respeitaram as restrições — fechadas por conta da pandemia da Covid-19. Aglomerações dentro e fora das casas não só as da Lapa, como as da Zona Sul e da Barra, são inevitáveis. E não é só gente do Rio que vem lotando os estabelecimentos para quem quer dançar: a noite carioca, que volta a bombar, atrai pessoas do interior e até de outros estados, como Minas e São Paulo.
O anúncio do prefeito Eduardo Paes, no fim de outubro, desobrigando o uso de máscaras ao ar livre e liberando as boates (mesmo com a limitação de 50% da capacidade) resgatou uma vida noturna que andava morna mesmo antes da chegada do vírus. Na Lapa, até então dominada pelo clima de barzinho, as pistas hoje são disputadas. Na Street Lapa, casa inaugurada em 2017 de público LGBTQIA+, já teve gente que ligou para a polícia reclamando que não conseguiu entrar após as portas fecharem, porque a lotação máxima havia sido atingida.
Até a última flexibilização da prefeitura, o lugar funcionava apenas como bar.
“A casa voltou agora com o movimento muito forte. Nossa capacidade é de mil pessoas, mas tem gente ficando do lado de fora. Se fôssemos abrir para todo mundo, daria duas mil por noite”, afirma Jorge Nascimento, dono da Street Lapa, revelando dificuldade em controlar o público, que encontra lá sistema de “open bar”. “A gente orienta todo mundo a usar máscara, mas é um pouco difícil, porque o pessoal está bebendo. Manter distanciamento também é complicado. Só que não fico preocupado com a Covid. Não temos histórico de ninguém que ficou doente. E, na porta, exigimos comprovante de vacinação”.
O Portal é outra boate na Lapa com o mesmo perfil que faz sua aposta. Com noites lotadas (a capacidade atual, em 50%, é de 600 pessoas), ela funciona há apenas dois meses.
“Estamos tendo uma pequena fila, com seguranças solicitando o espaço para distanciamento. Nosso maior objetivo agora é pagar nossas contas e fazer melhorias para receber com mais segurança”, conta a sócia Eva Lorrainy Vitor.
Samba no pé
Na Praça Mauá, o tradicional Trapiche Gamboa reabre suas portas na quinta-feira-feira para o público com samba no pé. Proprietária, Claudia Luciana Melo Alves adianta que o lugar, com capacidade para 600 pessoas, só vai aceitar 200 e não contará mais com ar-condicionado. Como o Trapiche sempre foi endereço para quem quer ouvir e cantar música boa, além de dançar, Claudia preferiu não abrir antes como bar. O casarão de 1857, lugar de boemia rasgada, estava fechado desde março de 2020.
“Queremos que todo mundo fique seguro e aproveite a festa porque o Trapiche é lugar onde as pessoas cantam. Difícil se sentir seguro se não houver afastamento e consciência de todo mundo”, diz a dona da casa, ela própria com saudades. “Estou doida para rever meus amigos”.
Com a queda nos números da pandemia no Rio, há um clima de euforia. A boate Vitrinni Lounge Bar, na Barra, cujas pistas vão de eletrônico a sertanejo, já tem fila na porta em dias como quinta e domingo. Outras boates da Barra também vivem esse fenômeno.
“Na Barra, há uma demanda reprimida, então as boates estão voltando com muita força. Tem muito evento acontecendo”, analisa o empresário Alexandre Serrado, ex-presidente do Polo Gastronômico da Olegário Maciel. “O carioca já tinha se habituado na pandemia a sair para o bar. Agora, muito bar funciona como pré-noite para as boates”.
Na Gávea, o Bosque Bar, que completa um ano este mês, faz parte da lista das pistas de dança ao ar livre e “instagramáveis”. Sexta e sábado, costuma ter gente esperando do lado de fora. Todos os dias há DJ; na quinta-feira e no domingo, tem show ao vivo de samba.
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“Nós abrimos cedo, mas quase todo mundo chega na mesma hora. Às 22h, começa a encher, e a gente passa a aumentar o preço da entrada. Tem vezes que temos de fechar a porta”, explica Juliana Schultz, sócia com amigos do Bosque e ainda do Tuna Beach Bar, no Leblon, que também funciona como pista de dança em área aberta. “No Bosque, temos tonéis espalhados, e as pessoas dançam em volta de sua mesa sem máscara, porque estão bebendo ou comendo”.
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‘Uma redescoberta’
O administrador João Henrique Muniz Soares, de 38 anos, diz que já sai respirando com mais tranquilidade. Ele prefere lugares ao ar livre, como o bar Bafo da Prainha, com mesas espalhadas pelo Largo da Prainha e que promove som ao vivo da sacada, e o Vuvu, em Botafogo, outro fenômeno de público na pandemia, especialmente nas noites de sexta.
“Tem um movimento interessante na cidade. Alguns lugares fecharam, mas outros abriram”, comenta João, dizendo que “o pessoal anda bem animado”. “Com os números da Covid mais baixos, o pessoal está mais tranquilo, e eu vejo que a cidade nos fins de semana e nos feriadões fica mais cheia. É como se estivéssemos vivendo uma redescoberta das pessoas, dos amigos”.
O Parque Bar, aberto há pouco mais de um ano na Lagoa, também é desses locais sem proposta de boate, mas que investe em música”, a cartela vai do hip-hop à roda de samba”, para dançar.
“Com as flexibilizações, a gente espera ver o bar cada vez mais cheio, principalmente com público de fora do Rio que acaba vindo para a Lagoa, um ponto turístico”, diz Renan Coelho, sócio do espaço.
A retomada da vida noturna segue com o Bukowski, em Botafogo, que planeja reabrir até o fim do mês o seu sistema de pistas de dança para o público antenado no melhor do rock. Muitos negócios que sofreram o baque da pandemia e sobreviveram em meio a dificuldades tentam voltar à cena aos poucos, com cautela. Aberto hoje como bar, o Bukowski, referência na noite desde 1997, recebe metade da sua clientela dos áureos tempos, quando reunia cerca de mil pessoas no sábado.
“Agora, com esse retorno, vamos começar a ter as pistas e DJs. Vamos voltar a ser o que a gente era”, avisa Eduardo Mazzei, sócio-administrador da casa.
O Coordenadas Bar, em Botafogo, tem colocado shows e apresentações na pista de dança. Com o relaxamentos das restrições, o plano é voltar com eventos. Na quinta, começou o karaokê com banda:
“Ainda estamos tateando”, diz Sancho Corá, sócio.
A cientista social Bárbara Vergetti, de 31 anos, circula pela noite do Rio e percebeu que público vem crescendo a cada dia:
“Os lugares têm ficado meio cheios, sim, e não há muito cuidado. A máscara é exigida para entrar nos locais, mas dentro ninguém usa”.