Apesar de existir uma vacina segura e barata contra a doença, o sarampo ainda causa mais de 100 mil mortes por ano no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, a doença havia sido completamente erradicada em 2016, mas voltou com força em 2018 graças à diminuição da cobertura de vacinação.
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Em 2018, foram mais de 10 mil casos de sarampo confirmados no país todo, de acordo com o Ministério da Saúde. E neste ano, até 5 de junho, o Brasil registrou 123 casos.
Quem é vacinado está imunizado e não corre o risco de contrair a doença. “Basta não estar imunizado e você tem risco de se contaminar”, afirma a médica Lessandra Michelin, coordenadora do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Mas há um grupo grande de pessoas que não podem receber a vacina por causa de eventuais riscos à saúde. Entre eles, crianças menores de um ano, pessoas com o sistema imunológico comprometido, grávidas e idosos que não foram vacinados antes e pessoas com alguns tipos de alergia.
O sarampo é uma doença grave e altamente contagiosa causada por um vírus. Ele é transmitido da mesma forma que o vírus da gripe, de pessoa para pessoa, através do contato direto e pelo ar. O vírus pode ficar no ar ou em superfícies por horas.
Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (Opas), os sintomas mais comuns são tosse persistente, febre, corrimento no nariz, irritação nos olhos e mal-estar extremo. Logo depois do surgimento desses sintomas iniciais, também costumam aparecer manchas avermelhadas na pele do rosto, que progridem para as pernas, e manchas brancas dentro da bochecha. Também podem ocorrer febre, conjuntivite, convulsões e perda do apetite.
“Doenças respiratórias, como resfriados, não tem como sintomas irritação nos olhos e manchas na pele e na boca. Então a presença desses sintomas, em conjunto com a tosse, a coriza ou a febre deve ser um sinal de alerta”, explica Michelin.
Nesse caso, diz a infectologista, é extremamente importante procurar um médico.
Casos graves de sarampo sem tratamento podem ter consequências que afetam a pessoa para o resto da vida – desde cegueira e perda auditiva a danos cerebrais permanentes, diz a Opas.
“O risco da doença levar a complicações de saúde – e até mesmo à morte – é maior em crianças pequenas, mas eu já vi acontecer com pessoas em diversas situações”, diz ela.
O sarampo ainda é uma grande causa de mortalidade infantil em muitos países de baixa renda, apesar de se acreditar que a vacina evitou mais de 20 milhões de mortes entre 2000 e 2017
Sintomas Tosse persistente Corrimento no nariz Irritação nos olhos Mal-estar Febre Conjuntivite Convulsões Perda do apetite Manchas avermelhadas na pele do rosto Manchas brancas dentro da bochecha
Embora a doença não tenha um tratamento específico – como antivirais que combatam especificamente vírus do sarampo – o acompanhamento médico, a ingestão de líquidos e o controle da febre são importantes para evitar complicações.
Entre essas complicações podem estar meningite e pneumonia, por isso o acompanhamento médico para monitorar o avanço da doença é importante, explica Michelin.
Calendário de vacinação
Para evitar a doença, é importante seguir o calendário de vacinação em crianças disponibilizado pelo Ministério da Saúde.
A vacina contra sarampo faz parte da tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), cuja primeira dose deve ser tomada aos 12 meses de idade. A segunda dose deve ser tomada entre os 12 e 19 anos. Aos 15 meses, deve ser tomada a vacina tetra viral (contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela), em dose única. As vacinas estão disponíveis de graça no Sistema Único de Saúde (SUS).
Se você não sabe se já tomou a vacina porque não tem o registro de sua vacinação na infância, deve se vacinar mesmo assim – uma dose adicional não gera nenhum tipo de risco para a saúde, explica Michelin.
Crianças são ainda mais vulneráveis ao sarampo e a vacina é a melhor forma de prevenção contra a doença
Crianças são ainda mais vulneráveis ao sarampo e a vacina é a melhor forma de prevenção contra a doença
A vacina é contraindicada para mulheres grávidas, pessoas que receberam transplante ou que estejam com o sistema imunológico deprimido. Pessoas acima de 60 anos devem consultar um médico.
Pessoas que sofrem de alergias devem procurar um médico ou serviço de saúde para saber se podem ou não tomar a vacina. “A maioria das alergias – a antibióticos, certos tipos de comida – não tem nada a ver com a vacina”, diz Michelin.
Porque a cobertura de vacinação caiu?
A partir dos anos 1980, quando a vacina contra sarampo se tornou amplamente usada, o número de casos caiu significativamente no mundo – alguns países conseguiram até erradicá-lo. O Brasil ganhou o certificado em 2016, para perdê-lo dois anos depois.
Antes da ampla utilização da vacina, grandes epidemias de sarampo aconteciam de tempos em tempos. No Brasil, por exemplo, houve mais de 129 mil casos de sarampo notificados em 1986.
Nos anos 1970, havia cerca de 2,6 milhões de morte por sarampo no mundo a cada ano.
Nos últimos anos, a doença tem voltado a se espalhar pelo mundo, sem chegar, no entanto, aos níveis históricos. Houve um aumento de 31% nos casos em 2017 na comparação com o ano anterior, levando a cerca de 110 mil mortes no mundo todo.
De acordo com o Unicef (braço da ONU para a infância), 98 países registraram um aumento de casos de sarampo em 2018, com quase três quartos disso ocorrendo em 10 países.
Os novos surtos de sarampo ocorrem em locais onde a cobertura da vacinação tem caído, ou seja, onde não houve o chamado efeito de “imunização de rebanho”, em que o alto número de vacinados impede que a doença alcance os não vacinados.
Os motivos da queda na vacinação variam muito de um lugar para o outro.
O movimento antivacinação influenciou muitas pessoas em partes dos Estados Unidos e da Europa. Apesar de abundantes evidências científicas a favor da vacinação, os chamados antivaxxers acreditam que vacinas são desnecessárias ou prejudiciais.
No Brasil e em países em desenvolvimento, esse movimento ainda é muito pequeno e tudo indica que a diminuição da cobertura de vacinação resultou de uma conjunção de fatores.
De acordo com dados do Datasus, coberturas vacinais com doses de reforço estão muito abaixo da meta esperada para todas as vacinas do Calendário Nacional de Imunização. No caso da tríplice viral, a segunda dose da vacina não bate a meta de vacinação, de 95%, desde 2012.
Segundo o Unicef, não há evidências suficientes para apontar um único culpado, mas as hipóteses apontam para o desfinanciamento do SUS – por causa da PEC do Teto dos Gastos -, que gerou uma diminuição nas campanhas de conscientização e diminui a disponibilidade de vacinas em algumas regiãos.
“Pode ter a ver também com mudanças sociais, culturais e econômicas no mundo, como as dificuldades das famílias em imunizarem as crianças em horário comercial”, disse a chefe da área de Saúde e HIV do Unicef no Brasil, Cristina Albuquerque, à BBC News em fevereiro.
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