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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou, nesta quarta-feira, a taxa básica de juros (Selic) de 6,25% para 7,75% diante da escalada da inflação. O IPCA-15 de outubro, divulgado ontem, acima das expectativas reforçou a preocupação com o aumento dos preços na economia.
Juro e inflação altos podem gerar dúvidas entre os investidores sobre qual o melhor caminho para alocar seus recursos. Especialistas ouvidos pelo GLOBO indicam o que fazer para proteger seus investimentos.
De um lado, temos uma renda fixa que se torna mais atrativa por conta do aumento dos juros, mas que também sofre com uma inflação mais alta.
De outro, há uma Bolsa de Valores considerada barata pelos analistas, mas que vem passando por momentos de turbulência.
Diante desse cenário, o investidor deve aproveitar as oportunidades disponíveis no mercado para se proteger e fazer seu dinheiro render mais, mesmo em tempos mais turbulentos.
Como se proteger?
Como destaca a analista de renda fixa da XP, Camilla Dolle, as melhores opções para aqueles que querem se proteger da inflação são os ativos que pagam IPCA+, isto é a inflação e mais um percentual definido na compra do ativo.
Ela destaca que a proteção só vai existir de fato se o investidor ficar posicionado no papel até o vencimento, já que em virtude do atual cenário deve ocorrer bastante oscilação até a data final estabelecida.
Já no caso da taxa de juros, para quem quer aproveitar as altas da Selic, uma opção são os títulos pós-fixados, que pagam um percentual da Selic ou do CDI.
“Dada essa volatilidade toda que temos visto, temos preferido uns vencimentos mais intermediários, de até cinco anos de prazo médio para não se expor muito a risco. E nesse prazo, já temos visto um prêmio bem interessante para os títulos do Tesouro Direto”, disse Dolle.
Na mesma linha, segue a economista-chefe da Rico Investimentos, Raquel de Sá:
“Aqueles títulos atrelados à inflação são ótimas opções neste momento. O próprio Tesouro Selic vai mover de acordo com a Selic. Ele não vai ser tão rápido em termos de reação à alta da inflação, mas olhando para o longo prazo, a tendência é a Selic esteja acima da inflação.”
Ainda existem os títulos prefixados, que pagam taxas de juros combinadas no momento da aplicação. Estes requerem mais cautela dos investidores, já que é mais difícil prever qual o melhor momento para entrar e para sair.
Há o risco de sair antes de aproveitar o melhor potencial do investimento, como de ficar preso até o final na taxa fixa.
Camilla, da XP, destaca que com o cenário macroeconômico turbulento, intensificado na semana passada, os pré-fixados vem pagando prêmios mais altos.
“Pode ser oportunidade, de preferência, ativos de curto a médio prazo. No máximo, uns quatro anos para não se expor tanto a risco.”
Títulos de crédito privado Para quem quiser correr mais riscos, é possível conseguir retornos maiores do que os dos títulos públicos investindo em papéis emitidos por bancos de menor porte, os certificados de depósitos bancários (CDBs).
Eles são mais arriscados, pois existe o risco do banco enfrentar problemas financeiros. Nesse caso, vale destacar que esses investimentos são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma espécie de seguro até o valor de R$ 250 mil por CPF, o dinheiro fica protegido mesmo em caso de calote. O ideal é alinhar o seu objetivo com o prazo de vencimento do papel.
“Sempre recomendamos que, apesar da cobertura do FGC, o importante é entendermos qual é o risco daquele banco específico, se ele está com uma boa saúde financeira, quais são as perspectivas para ele neste momento. Não deve ir contando com o FGC sem contar com quem é o banco emissor”, disse a analista da XP.
Ainda dentro do contexto de renda fixa, são opções os ativos isentos de imposto de renda, que ficaram um pouco esquecidos na época de Selic baixa.
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São os casos das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliários (LCIs). Estas também são cobertas pelo FGC e são isentas de IR. Há também os CRIs e CRAs, mas estes não são cobertos pelo FGC.
“Nesse momento, eles (CRIs e CRAs) estão com taxas mais atrativas, mas é bom tomar cuidado e colocar uma parcela bem menor do seu portfólio. Se tiver uma oportunidade dessa, é melhor um prazo mais curto, porque ele não te paga a correção da inflação”, disse Sá.
A dica nesses casos é ver a qualidade do emissor do crédito.
Fundos
Para a estrategista-chefe da Órama Investimentos, Sandra Blanco, os fundos multimercados, aqueles que mesclam aplicações de vários mercados, podem ser opções para investidores que possuam horizontes mais longos e que tenham um perfil ao menos moderado na hora de correr riscos.
“Os multimercados com suas estratégias flexíveis costumam encontrar oportunidades não disponíveis para o investidor individual. Mas os resultados levam tempo para maturarem.”
O sócio-fundador da Guardian Gestora, de fundos imobiliários, Gustavo Asdourian, explica que um cenário de alta de juros reduz o preço das cotas e aumenta o retorno, já que os investidores pedem um prêmio maior para alocarem seus recursos em outros ativos que não sejam títulos públicos ou CDBs de grandes bancos.
Ele afirma que os preços atuais ainda estão atrativos para novos entrantes. Para os interessados em investir nesses ativos, o recomendado é não colocar o dinheiro no mesmo produto ou alocar todo o recurso de uma única vez.
“É indicado ler as cartas de relatórios mensais dos gestores. Em fundo de tijolo logístico, é interessante olhar se o fundo está com uma vacância baixa, que percentuais ele tem contratos de alocação, olhar a qualidade de créditos locatórios, se tem grandes empresas alugando os imóveis. No de papel, verificar a carteira dos fundos, os indexadores dos papéis, se as emissões são com boas garantias.”
Para Asdourian, os FIIs podem funcionar como forma de proteção no atual cenário:
“Como os FIIs tendem a ter bastante indexação à inflação, acreditamos que eles são bons para essa proteção. E tem a questão da isenção de imposto de renda, que é um ótimo benefício para os investidores”, disse o especialista, destacando que os fundos de papel devem ser os menos afetados pelo atual cenário turbulento.
E a Bolsa?
Em momentos de turbulência como o atual, os investidores tendem a correr de ativos de maior risco. E a trajetória de alta da taxa de juros combinada com o cenário macroeconômico conturbado vem prejudicando os ativos listados na Bolsa nos últimos meses.
Diversos gestores reduziram suas projeções para o patamar do Ibovespa ao final do ano. Até o fechamento desta quarta-feira, o principal índice da B3 tem queda acumulada no ano de 10,63%.
No entanto, apesar das dificuldades os especialistas não deixam de recomendar ativos na Bolsa, especialmente para aqueles que pensam no longo prazo.
As ações estariam “baratas” levando em conta o valor que possuem hoje em relação aos fundamentos da empresa.
Entre as medidas usadas para medir se o ativo está ou não com um bom preço estão os múltiplos que relacionam o preço das ações com indicadores contábeis. Um exemplo são as relações entre o valor de mercado mais a dívida líquida da empresa com a geração potencial de caixa.
Em contexto de alta de juros como o atual, empresas mais sensíveis às taxas, como as do setor de tecnologia, podem sofrer mais.
Um dos impactos da alta de juros nas empresas é que aquelas mais alavancadas ficam com dívidas mais caras e também verão seu custo de capital aumentar.
“A Bolsa brasileira foi a que mais caiu em dólares no mundo. Nesse momento, indicamos aquelas empresas que não dependem tanto dos movimentos cíclicos da economia para seu crescimento e com alavancagem menor”, destaca a economista-chefe da Rico.
Diversificar sempre
De forma geral, os analistas recomendam que a diversificação entre diferentes classes de investimentos é o mais indicado, sempre com a busca por aqueles que não tenham correlação.
“Nesse período, duas coisas que temos que destacar para qualquer investidor pessoa física é cautela e diversificação. O investidor deve pensar em uma diversificação não só entre classes de ativos de renda fixa e de renda variável, mas também olhar a geografia”, ressalta Raquel, referindo-se às possibilidades de investimentos atrelados a empresas estrangeiras, por meio de fundos e BDRs.