O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como o chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete no período em que foi deputado da Assembleia Legislativa do estado (Alerj). Ele cumpriu quatro mandatos parlamentares consecutivos, entre 2003 e 2018.
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A estimativa é que cerca de R$ 2,3 milhões tenham sido movimentados em um esquema no qual funcionários de Flávio Bolsonaro devolviam parte do salário que recebiam na Alerj. O dinheiro, segundo a investigação, era lavado com aplicação em uma loja de chocolates e em imóveis.
O senador nega todas as acusações, se diz vítima de perseguição e critica o vazamento das informações do processo, que corre em segredo de Justiça.
Segundo promotores, a organização criminosa existiu “com alto grau de permanência e estabilidade, entre 2007 e 2018, destinada à prática de desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro”.
O ex-PM e ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício de Queiroz é apontado pelo MP como operador do esquema. Ele empregava funcionários fantasmas e exigia parte do salário (ou mesmo a integralidade dele) de volta. Ao todo, 13 funcionários participaram da chamada “rachadinha”. A Promotoria identificou o recebimento de 483 depósitos na conta bancária de Queiroz, mais de R$ 2 milhões.
O termo “rachadinha” é usado para definir um esquema de repasse de parte do salário recebido por funcionários, servidores ou prestadores de serviço a um político ou a assessores dele.
Os investigadores identificaram três grupos de pessoas que foram contratadas no gabinete de Flávio e são suspeitas de desviar recursos:
Grupo 1 – Família Queiroz e ex-assessores
Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, a mulher dele e duas filhas
Outros 9 ex-assessores de Flávio Bolsonar
Grupo 2 – Parentes de miliciano
Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega (miliciano do chamado “Escritório do Crime”): suspeita de ser funcionária fantasma da Alerj
Raimunda Veras Magalhães, sogra de Adriano: suspeita de ser funcionária fantasma da Alerj
Segundo MP, ao nomear Danielle e depois Raimunda para cargos comissionados, Flávio Bolsonaro transferiu, ainda que indiretamente, recursos públicos para o acusado de integrar milícia.
Os investigadores dizem as duas receberam R$ 1,029 milhão do gabinete de Flávio e repassaram ao menos R$ 203 mil a Queiroz. A Promotoria diz que elas usaram contas de restaurantes que seriam de Adriano para fazer os repasses. Formalmente, o miliciano não aparece no quadro societário das empresas. Quem aparece é a mãe dele, Raimunda.
Grupo 3 – Família Siqueira
Segundo o MP, 10 pessoas ligadas a Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, são suspeitas de serem funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio. Os nomes incluem o pai de Ana Cristina, tios, primos, irmã e até uma pessoa próxima à família.
O MP aponta que elas moravam em Resende (RJ) na época em que foram contratadas, e muitas não tinham nem mesmo crachá para entrar na Alerj. Entre 2007 e 2018, eles sacaram R$ 4 milhões de suas contas bancárias.
B) LAVAGEM DE DINHEIRO
Além dos contratados pelo gabinete, o Ministério Público identificou três outros grupos suspeitos de lavar o dinheiro desviado de salários da Alerj:
Grupo 1 — Sargento da PM
Diego Sodré de Castro Ambrósio, sargento da PM e amigo de Flávio Bolsonaro, e a empresa de vigilância dele, Santa Clara Serviços
Investigadores dizem que Ambrósio pagou um boleto de R$ 16.564,81, emitido no nome de Fernanda, mulher de Flávio, em outubro de 2016. O boleto era uma prestação de apartamento comprado pelo casal em Laranjeiras, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro.
O PM disse que era um empréstimo, e que Flávio o ressarciu em espécie. Flávio disse que pediu ajuda para pagar a conta porque não tinha aplicativo do banco no celular na época.
Também em 2016, o PM efetuou transferências para dois assessores de Flávio da Alerj. Além disso, também foram identificados depósitos feitos por ele para a loja de chocolates do atual senador dos anos de 2015 a 2018
Grupo 2 — Loja de chocolate
Alexandre Ferreira Dias Santini, sócio de Flávio Bolsonaro na empresa Bolsotini Chocolates e Café
Next Global Importação, Exportação e Logística, empresa de Santini
Flávio Bolsonaro detém 50% de uma franquia da loja chocolate Kopenhagen. O MP suspeita que a loja foi usada para lavar dinheiro do esquema das “rachadinhas”. Segundo os investigadores, o volume de dinheiro em espécie depositado na conta da loja era desproporcional em relação ao faturamento.
As quantias depositadas não variavam conforme a sazonalidade das vendas de chocolate (Páscoa e Natal) e coincidiam com as datas em que Fabrício Queiroz arrecadava parte dos salários da Alerj. A quantia lavada na loja pode chegar a R$ 1,6 milhão entre 2015 e 2018, de acordo com as investigações.
Grupo 3 – Compra e venda de imóveis
Glenn Howard Dillard, investidor norte-americano
CMA Assessoria
O MP apura a suspeita de lavagem de R$ 638,4 mil na compra e venda de dois imóveis em Copacabana. Glenn Howard foi o responsável por vender os imóveis com preços abaixo do mercado. Depois, eles foram vendidos por Flávio Bolsonaro com lucro extraordinário. A diferença entre o valor declarado na compra e o declarado na venda é lavado, ou seja, tem a aparência de ser legal.