17 de maio de 2024 07:50

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Coluna A Voz do Leitor | COVID-19: ENTRE A CRUZ E A ESPADA

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Coluna A Voz do Leitor | COVID-19: ENTRE A CRUZ E A ESPADA

Comumente a expressão estar entre a Cruz e a Espada é usada quando uma pessoa se encontra em um dilema e precisa fazer uma escolha que implicará em mudanças no contexto de sua vida. Acerca da origem, alguns estudiosos sugerem que a expressão date dos fins da Idade Média, ou da Idade Moderna, em ambos os casos remetendo a Inquisição, contudo, outros apontam o período das Cruzadas que abarca o final do século XI e vai até meados do século XIII.

Hodiernamente é possível dizer que a grande maioria da sociedade está em um grande dilema, representado pela triste afirmativa, “morrer de Covid19 ou morrer de fome”. Por mais que à primeira vista pareça um exagero, em algumas situações é exatamente este dilema que muitas pessoas estão vivendo. Cumpre trazer a definição de dilema, que significa circunstância árdua e de difícil resolução em que é necessário escolher entre duas opções contraditórias, contrárias ou insatisfatórias; escolha excessivamente difícil.

É inegável que a Covid-19 está ceifando vidas sem distinção de idade, cor, sexo e condição financeira e que a economia do País foi duramente afetada, resultando no fechamento de empresas e por via de consequência milhares de pessoas perderam seus empregos e renda. Diante dos efeitos nefastos desta terrível doença, a comunidade cientifica recomenda a adoção de medidas de isolamento social, uso de máscaras e álcool em gel.

Em situações extremas de altos índices de contágio alguns gestores públicos têm adotado o lockdown, medida imposta por lei ou decreto, determinando a paralisação de muitas atividades e do deslocamento da população. Ficar em casa deixa de ser uma recomendação e passa a ser obrigação. Representa o nível mais alto de alerta sanitário.

Ocorre que a medida supramencionada, por mais defensável que seja do ponto de vista sanitário, tem dividido opiniões no seio da sociedade, principalmente porque afeta diretamente o setor produtivo (comércio, indústria, serviços e turismo), bem como limita um direito fundamental do cidadão que é direito de se locomover livremente, o famoso direito de ir e vir.

Os que defendem a adoção das recomendações da ciência como o lockdown, invocam a proteção da vida, bem mais relevante de todo ser humano, sob a assertiva de que a economia se recupera e a vida não, todavia, os que se posicionam de forma contrária, invocam justamente a mesma premissa, qual seja, a proteção da vida, mas pela geração de emprego e renda advindo do livre funcionamento do setor produtivo. Inclusive estes defendem que o desemprego gerará uma severa crise financeira, que levará ao caos social, que por sua vez levará a incontáveis mortes.

Como visto, não é uma questão de fácil resolução, em boa medida, tanto uma como a outra linha de pensamento possuem grande relevância e são defensáveis. Compete dizer que todos estão com medo da doença, clamar pela abertura do comércio não significa negar a realidade, mas sim uma necessidade, nem todos possuem reserva para ficar em casa até que este pesadelo acabe. Além do que, mercê da velocidade em que a vacinação caminha, não se tem certeza de quando a pandemia será controlada e até lá, muitas pessoas necessitam do trabalho diário para sobreviver.

É preciso ressaltar que vivemos em um País de grandes desigualdades, enquanto muitos possuem um bom salário, casa confortável e uma dispensa abastecida outros são catadores de latinha, diaristas, prestadores de serviços e muitos estão desempregados, precisando pagar aluguel e sequer tem uma cesta básica para alimentar a sua família. Até as empresas não estão livres desta desigualdade, enquanto umas possuem patrimônio e capital de giro outras são pequenas e dependem do dia a dia para adimplir suas obrigações, contribuindo com o desenvolvimento do País.

Em conclusão, depois de passado um ano de enfretamento da Covid-19 em que milhares de vidas foram perdidas, não há mais quem negue a letalidade da doença, mas é preciso considerar que muitas famílias se sentem ameaçadas pela doença ou pelo risco do desemprego, assim, ir ao trabalho não é um passeio ou uma diversão, é uma necessidade, por isso quem puder fique em casa, mas não julgue quem está indo trabalhar, não significa dizer que não estão com medo, o que para muitos pode ser considerado um gesto de coragem, para outros se tornou uma questão de sobrevivência.

Por Valcy Ribeiro
Advogado

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