O presidente Jair Bolsonaro orientou nesta terça-feira (8) um apoiador que se apresentou como pré-candidato pelo PSL em Recife (PE) a esquecer o partido. Bolsonaro e dois dos seus três filhos políticos – o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP) e o senador Flávio Bolsonaro (RJ) – são filiados ao PSL.
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O diálogo ocorreu enquanto o presidente cumprimentava simpatizantes na saída do Palácio da Alvorada.
O canal no YouTube “Cafezinho com Pimenta”, que apoia o presidente, transmitiu a conversa pela rede social:
Apoiador: Bolsonaro, Bolsonaro, eu sou de Recife, sou pré-candidato do PSL.
Bolsonaro (cochichando no ouvido do apoiador): Esquece o PSL, tá ok? Esquece.
Apoiador: Eu, Bolsonaro e Bivar. Juntos por um novo Recife. Aê!
Bolsonaro: Cara, não divulga isso não, cara. O cara tá queimado para caramba lá. Entendeu? E vai queimar o meu filme também. Esquece esse cara. Esquece o partido.
Outros apoiadores também sugeriram ao rapaz que apagasse o vídeo. O homem disse: “Vou esquecer, vou esquecer” e refez o vídeo com os dizeres “Recife, eu e Bolsonaro!”.
Bivar, mencionado no diálogo, é o presidente do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE). O G1 procurou a assessoria do parlamentar para ouvi-lo sobre as declarações do presidente. Até a última atualização desta reportagem, ainda não havia resposta.
Questionado pela colunista do G1 Andréia Sadi, Bivar declarou que não sabe a que Bolsonaro se refere. “Não sei, realmente não sei. Até porque estou dentro do avião”, afirmou Bivar.
O deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, durante sessão na Câmara dos Deputados — Foto: Michel Jesus/ Câmara dos Deputados. O deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, durante sessão na Câmara dos Deputados — Foto: Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
O deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, durante sessão na Câmara dos Deputados — Foto: Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
Bivar é um dos nomes do PSL citados em investigações sobre supostas irregularidades na campanha eleitoral de 2018. Em Pernambuco, a Justiça Eleitoral apura se o parlamentar usou uma candidata laranja para desviar de dinheiro do fundo especial de campanha. Ele nega irregularidades.
As suspeitas de candidaturas-laranjas também surgiram em Minas Gerais, onde o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que é deputado eleito pelo PSL, foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral pelos crimes de falsidade ideológica, apropriação indébita eleitoral e associação criminosa. O ministro nega irregularidades na campanha.
Nesta segunda-feira (7), Bivar defendeu Álvaro Antônio ao blog da Andréia Sadi no G1. Bivar disse que há uma “seletividade” do delegado da Polícia Federal (PF) por ter indiciado o colega de partido, sem “intimar” nenhum outro partido.
“Não há fato concreto contra o Marcelo. O delegado precisa ter bom senso. Se não, é atropelado pela força da paixão”, afirmou o presidente do PSL.
Bolsonaro e o PSL
Deputado federal por 28 anos, Bolsonaro migrou para o PSL em 2018 a fim de disputar a eleição presidencial. O partido, que era nanico, se beneficiou com a onda em favor de Bolsonaro, vitorioso no pleito, e elegeu a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.
De acordo com projeto de lei aprovado pelo Câmara em setembro, com a representatividade atual, o PSL seria mais beneficiado pelo aumento do valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, conhecido como fundo eleitoral. O dinheiro é distribuído para as legendas conforme o número de parlamentares das siglas no Legislativo.
O PSL tem um histórico de brigas internas e uma possível saída de Bolsonaro da legenda é discutida nos bastidores há meses, contudo, na segunda-feira (7), o porta-voz do Planalto, Otávio do Rêgo Barros, negou a possibilidade no momento.
“Não há da parte do presidente agora qualquer formulação sobre uma suposta transição de partido”, disse o porta-voz.
Na última semana, no podcast do G1 Papo de Política, as jornalistas Julia Duailibi, Andréia Sadi, Maju Coutinho e Natuza Nery trouxeram apuração exclusiva sobre a relação do presidente Jair Bolsonaro com o PSL e os embates que já começaram por causa das eleições de 2020 e 2022