Brasil chegou a inacreditáveis 278 mil óbitos pela COVID -19. É uma tragédia sem precedentes.
Não há absolutamente nada parecido na história moderna brasileira, quiçá em séculos.
278 mil brasileiros e brasileiras morreram vítimas desse vírus altamente perigoso.
A média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias chegou a 1.832, novamente um recorde. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +50%, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença. É algo jamais visto antes.
Todo mundo, inclusive este que vos escreve, já perderam amigos próximos. Familiares, entes queridos, enfim, todo mundo conhece alguém que a COVID levou. E por que, mesmo diante dessa tragédia de proporções colossais, ainda não nos conscientizamos coletivamente do gravame desta doença?
A impressão é que banalizamos a morte. Sequer respeitamos o luto pela dor alheia. Nosso lamento é superficial e não há comoção nacional.
Assistimos atônitos o noticiário diário de mortes, relatos de médicos exaustos, colapso do sistema de saúde público e privado, falta de aparelhos, toda essa narrativa que é notícia há semanas, meses, em todos os veículos de comunicação. Todos sabemos da profundidade do problema.
E por que, mesmo assim, perdemos o valor pela vida humana?
Ou melhor dizendo, por que perdemos o valor pela vida humana do nosso semelhante?
Em um país ocidental, maciçamente cristão como o nosso, onde está o Grande Mandamento:
“Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39)
Que evangelho é este que desrespeita a dor do outro, que não se conscientiza que o problema é gravíssimo e de responsabilidade coletiva?
Não quero aqui culpar X ou Y pelo descontrole generalizado da pandemia no Brasil, hoje o epicentro no mundo, tampouco pela falta de vacinas, nem pelo receituário de medicamentos sem eficácia, isto a história se encarregará. Quero apenas que reflitamos a que ponto chegamos. Como perdemos nossa capacidade de empatia, como teu comércio aberto é mais importante que a vida de alguém. Como teu direito de ir e vir, mesmo em uma pandemia absolutamente sem controle, vale mais que qualquer outra coisa. Que individualismo nocivo e doentio é este?
Parafraseio o poeta Cazuza:
“Brasil, mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim. Brasil, qual é o teu negócio. O nome do teu sócio, confia em mim”
É sabido de todos e dramaticamente terrível concluir que a pandemia no Brasil ainda está longe do fim, aliás, a impressão é que não tem fim.
E somos nós que estamos contribuindo para isto.
Somos nós que decidimos não acreditar na gravidade do vírus.
Somos nós que assistimos morbidamente 30 crianças recém-nascidas, 30 brasileirinhos, morrerem sem oxigênio numa tarde em Manaus.
O que mais falta acontecer para a gente virar gente?
- Publicidades -
Marcos Milhomens
Analista Político