COVID-19: NÃO ERA SÓ MAIS UM SILVA; Artigo em memória ao inspetor-chefe da GMP, ‘Cmt. Osvaldo’

Essa é uma homenagem a todos os Silvas do Brasil, assim é parte da letra de uma música intitulada de Rap do Silva composta por Bob Rum e o MC Marcinho os quais contam a história, em breve síntese, de um homem de origem simples, cuja estrela não brilha, que era funkeiro mas era pai de família. Que era trabalhador, pegava trem lotado, jogava futebol e era boa vizinhança, todo mundo dizia que era um cara maneiro, mas numa noite que saiu para sua diversão, perdeu a vida, sem explicação, vítima de uma agressão.

De início cumpre salientar que um dos sobrenomes mais comuns do Brasil, “Silva” é de origem toponímica: vem do latim silva, que significa “selva, floresta ou bosque”. De acordo com Karen Hägele, diretora do site MyHeritage.com.br no Brasil, sua origem está relacionada à Torre da Silva, que fica na cidade de Valença, no norte de Portugal (http://www.usp.br/claro/index.php/tag/silva/). Mais de 5 milhões de brasileiros possuem este sobrenome, portanto, quem na vida ainda não conheceu ou conhece, com certeza ainda vai conhecer um Silva.

Dentre os milhões de Silvas, cito um cidadão por nome de Osvaldo Silva, um pai de família exemplar, amoroso e totalmente devotado à sua esposa e seus filhos. Era trabalhador, torcedor apaixonado pelo Botafogo do RJ, daqueles que por onde andava usava camisa e boné do seu time. Amigo de todos, dedicado a ajudar a causa do próximo mais necessitado e não tinha inimizade com ninguém, não guardava mágoas em seu coração. Foi o idealizador de um dos grupos de debate político mais conhecidos do Tocantins, o grupo “A Voz do Povo”, atuando como conciliador e mediador em debates acalorados, sempre com muita paciência e sabedoria em suas intervenções naquele grupo.

Osvaldo Silva era morador da região Norte da Capital e serviu ao município de Palmas – TO por mais de 27 anos como Guarda Metropolitano, ultimamente como inspetor-chefe e tinha um sonho de um dia se aposentar e retornar a sua terra natal para estar junto aos seus familiares, desfrutando de uma vida com simplicidade e sem muito luxo, dizia sempre que gostava de simplicidade, mas infelizmente não poderá mais realizar este sonho pois perdeu sua vida no último dia de 02 de março de 2021 em decorrência de complicações causadas pela COVID-19. (https://www.soudepalmas.com.br/cotidiano-em-destaque/palmas-perde-comandante-osvaldo-inspetor-da-guarda-metropolitana-mais-uma-vitima-da-covid-19)

Assim como a história do comandante Osvaldo Silva, como era carinhosamente chamado pelos amigos mais próximos, muitos Silvas, cuja estrela não brilha, estão perdendo suas vidas por causa da COVID-19, na maioria das vezes por lhes faltarem justamente a fidalguia, pois se fossem parentes de um dos integrantes das mais altas cúpulas do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário do Brasil talvez tivessem melhor sorte numa assistência médica que pudesse salvar suas vidas. Se os filhos, pai, mãe ou parentes mais próximos dos integrantes do Executivo, Legislativo ou Judiciário tivessem que obrigatoriamente se tratarem na rede pública de saúde deste País com certeza teríamos a maior e melhor assistência médica do mundo, independente do sobrenome que os pacientes tivessem, ou alguém duvida disso?

Por fim, neste Brasil de tantas desigualdades e injustiças sociais, corrupção desenfreada, que se gloria de ser o País do futebol investindo milhões em estádio e salários astronômicos em astros da bola, ao invés de investir em construções de hospitais, educação, melhor remuneração de profissionais da saúde, educadores, profissionais da segurança pública, desenvolvimento da ciência e tecnologia que hoje estaria salvando vidas, resta ao familiares verem seus parentes entrarem para triste estatística de mortes pela Covid-19, como se fossem apenas meros números lançados diariamente em uma planilha, mas que não verdade para eles jamais serão apenas “mais um Silva”.

Este artigo é uma homenagem à memória do amigo Comandante Osvaldo Silva e a todas as pessoas, independente do sobrenome, que perderam suas vidas para a COVID-19.

Por Valcy Ribeiro
Advogado