Os consumidores de bebidas alcóolicas vivem em um difícil dilema durante o período de altas temperaturas: beber logo a cerveja ou drink e partir para a próxima lata ou ir mais devagar, com o risco de deixar o líquido quente?
- Publicidades -
Para cessar com este ‘problema’, foram criados os famosos copos térmicos, que prometem manter qualquer líquido bem geladinho por muito mais tempo que um copo convencional, só que por um preço bem alto, cerca de R$ 200. O item se tornou febre na internet no último ano (e até alvo de memes), mas a pergunta que intriga a população é: Será que realmente valem a pena?
Com o intuito de responder esta dúvida, o g1 experimentou seis modelos em usos comuns do dia a dia — não se trata de teste de laboratório. A metodologia (leia mais ao fim da reportagem) foi validada por Marcelo Fernandes Vieira, professor do departamento de engenharia química da Universidade Estadual de Maringá.
As lojas oferecem copos grandes voltados para bebidas geladas e copos menores (ou canecas) com foco em líquidos quentes. Mas a verdade é que os dois tipos servem tanto para quente quanto para frio. E será que valem a pena?
O experimento contou com seis modelos em usos comuns do dia a dia — não se trata de teste de laboratório. A metodologia foi validada por Marcelo Fernandes Vieira, professor do departamento de engenharia química da Universidade Estadual de Maringá.
Os copos foram avaliados com cerveja, refrigerante, água, chá, café e leite. Os líquidos frios foram tirados da geladeira no momento de serem colocados nos recipientes. E os quentes foram preparados na hora.
Foram feitas medições com um termômetro de alimentos. E um copo de vidro e uma caneca de cerâmica serviram como comparação com recipientes convencionais.
Os produtos avaliados foram:
- Copo de Cerveja Coleman
- Copo Kouda Don
- Copo de Cerveja Stanley com Tampa
- Caneca Contigo
- Caneca Kouda Helga
- Copo Everyday Stanley
Ao fim do texto, saiba por que esses copos conseguem manter a temperatura por muito mais tempo e os motivos de eles serem tão caros.
Referência: o copo de vidro
No teste de bebidas geladas, um copo de vidro de 350 ml foi preenchido com os mesmos líquidos usados nos térmicos. Veja como ele se comportou:
PRIMEIRA MEDIÇÃO: logo após cada bebida ser servida, as temperaturas pareciam bastante com as encontradas nos líquidos que estavam nos copos especiais: 1,4ºC para água com 9 pedras de gelo, 3,6ºC para refrigerante também com 9 pedras de gelo e 10,3ºC para cerveja.
1 HORA DEPOIS: as temperaturas subiram para 5,6ºC na água, 12,5ºC no refrigerante e 18,6ºC na cerveja. E, diferente dos copos térmicos, o de vidro já estava suando.
3 HORAS DEPOIS: os líquidos já estavam quase na temperatura ambiente, com a água a 24,8ºC, já sem o gelo, a cerveja, choca, a 25ºC, e o refrigerante, sem gás, a 21,9ºC. Vale dizer que a perda de gás não acontece só no copo de vidro. Confira abaixo.
O copo de cerveja da Coleman, entre os três modelos avaliados, é o que tem o melhor acabamento. Nas lojas on-line, era vendido por R$ 200 no final de janeiro e tem garantia vitalícia.
É o único com uma base emborrachada e com um abridor de garrafas integrado a essa base. Desse modo, o copo fica mais firme na mesa e não risca a superfície. E é impossível perder o abridor.
A tampa tem uma lingueta móvel, que pode ser fechada para manter a temperatura fria por mais tempo e evitar derramamento de líquidos, no caso de alguém desastrado derrubar o copo.
Nos testes com as bebidas frias, o copo da Coleman teve um empate técnico com o da Kouda e o da Stanley, com as menores temperaturas.
As temperaturas de partida foram semelhantes às do copo de vidro. Mas, após três horas, foram atingidos 11,5°C na cerveja, 2,5°C na água com gelo e 0,1°C no refrigerante com gelo.
Nesse último caso, o líquido ficou cada vez mais frio: nos primeiros 5 minutos após ter sido servida, a bebida estava com 1,8°C. Mas, depois de uma hora, já não tinha mais gás, como aconteceu com todos os copos testados.
O copo Kouda Don tem um visual mais robusto por conta da pintura metálica com textura (chamada de Hammertone), sem abridor ou base emborrachada.
O produto custava R$ 190 nas lojas on-line no final de janeiro. A garantia é de 6 meses, e não vitalícia, como nos rivais.
A tampa também tem uma lingueta para fechar e evitar derramamento. Durante os testes, entrou algum tipo de sujeira (refrigerante/cerveja) no trilho que encaixa essa lingueta à tampa, e foi difícil de remover. Pelo design dos outros modelos testados, não parece que seria tão complicado se o mesmo acontecesse com eles.
A fabricante indica a limpeza com bicarbonato de sódio e sabão para remover a sujeira. E é a única das três marcas a vender tampas sobressalentes para seu copo.
Nos testes, o copo da Kouda teve resultados um pouco melhores que o da Coleman e da Stanley, mas todos muito próximos uns dos outros: No início, foram 8,5ºC na cerveja, 15,2ºC na água e -0,4ºC no refrigerante. Após três horas, foram anotados 10,9°C na cerveja, 0,4°C na água com gelo e -1,1° C no refrigerante com gelo.
E, em todos os testes, foi um dos dois copos a atingir temperaturas abaixo de zero, junto com o Stanley.
O Kouda foi de -0,4°C no início da avaliação com refrigerante, baixou para -1,2°C na primeira hora e assim se manteve até subir a -1,1ºC após 3 horas.
O copo Stanley se tornou sinônimo de copo térmico com seu acabamento opaco em aço inoxidável e o desenho de um urso com coroa e asas. Além da sua onipresença em quadras de beach tennis…
No final de janeiro, nas lojas on-line, o copo Stanley com tampa custava R$ 230, em média. A fabricante oferece garantia vitalícia.
Ele é o único dos três copos testados sem uma lingueta para fechar a tampa. Sua saída de bebida tem uma grande abertura. Incautos podem tomar um banho de cerveja se não perceberem o tamanho da boca do copo.
Tem um abridor encaixado na tampa, que pode ser facilmente perdido – e não é vendido separadamente pela Stanley.
Na primeira hora, o Stanley começou com 8,6ºC na cerveja, 15,1ºC na água e 0,1ºC no refrigerante.
Em três horas de teste, o copo deixou a cerveja com 12,2°C, a água com gelo a 4,1°C e o refrigerante com gelo a -0,4°C.
No geral, o desempenho do Stanley foi muito parecido com os concorrentes. As diferenças ficam entre 0,6°C a pouco mais de 1°C a mais que o Kouda ou o Coleman.
Na prática, dá para dizer que é um empate técnico, já que a variação se encaixa numa margem de erro.
Na primeira hora de refrigerante com gelo, o Stanley foi um dos que bateram temperatura abaixo de zero, junto ao Kouda: -0,9°C ou quase 1 grau a menos que o modelo da Coleman no mesmo teste (0,8°C). Na segunda hora, bateu -0,7°C.
Referência: caneca de cerâmica
No teste de bebidas quentes foi usada uma caneca de cerâmica para controle.
PRIMEIRA MEDIDA: logo que as bebidas foram servidas na caneca, elas mediram 75,1°C (chá), 67,9°C (leite) e 64°C (café coado).
APÓS DUAS HORAS: todos os líquidos na temperatura ambiente (em torno dos 29°C).
A caneca Contigo (marca do mesmo grupo que produz o copo Coleman) tem um design simples, tampa com lingueta móvel e acabamento em aço inoxidável, com pintura em preto. Sua base é emborrachada.
Nas lojas on-line, custava em torno de R$ 190 no final de janeiro e tinha garantia vitalícia.
Nos testes com bebidas quentes, ela manteve a temperatura alta para os três líquidos. No primeiro registro, foram 80,3ºC para o chá, 81,5ºC para o leite e 71,6ºC para o café.
Foram marcados 55,3°C para chá, 43,1°C para leite e 47,9°C para café, após duas horas.
Os resultados foram muito similares aos da Kouda, para líquidos quentes, e em torno de 1°C a 3°C a mais que o Stanley Everyday – algo que se encaixa na margem de erro.
A caneca Kouda Helga lembra uma versão reduzida e com alça do copo de cerveja, com um design básico e uma tampa com lingueta que evita derramamentos. É a mesma tampa do copo Don, da mesma marca.
A caneca custava R$ 180, em média, nas lojas on-line na última quinzena de janeiro.
Na avaliação com as bebidas quentes, a caneca seguiu quase os mesmos resultados da Contigo e da Stanley: 78,8°C (chá), 78,1°C (leite) e 70,1°C (café) no início. E 55,8°C, 43°C e 47,9°C, após duas horas, respectivamente.
Como no copo para cerveja, a Kouda oferece garantia de seis meses na caneca térmica.
O único copo entre duas canecas para bebidas quentes, o Stanley Everyday segue o design do “irmão” maior e não tem uma lingueta para fechar a tampa removível.
Com garantia vitalícia da fabricante, era vendido na última semana de janeiro por R$ 200 nas lojas on-line.
E seu desempenho também foi similar ao do copo de cerveja, com diferenças entre 1°C e 3°C em comparação aos modelos da Contigo e Kouda.
Nos testes com chá quente, o copo menor da Stanley começou com 79°C e, duas horas depois, estava com 52,5°C. Na avaliação com leite, o início foi de 78,1°C – igual à caneca da Kouda – e o fim com 39,5°C. E nos testes com café coado, começou com 70,8°C e, duas horas depois, estava em 46,9°C, um grau abaixo dos concorrentes.
Conclusões
QUAL O MELHOR? Na prática, o resultado dos testes com os copos grandes é muito parecido. A bebida fica gelada por mais tempo? Sim, em todos.
A escolha vai ser feita pelas funcionalidades adicionais – o da Coleman tem o abridor integrado e o pé emborrachado (que é um grande diferencial), o da Stanley tem o abridor na tampa (e que pode ser perdido após umas cervejas) e o da Kouda é o básico com cara de super-resistente e que deixa tudo um pouquinho mais gelado – mas bem pouco.
Nos copos menores, o resultado também foi muito similar e a principal diferença entre os modelos é a capacidade – maior no Contigo (414 ml) e Kouda (370 ml) e menor no Stanley (296 ml).
Por causa das alças, Contigo e Kouda Helga têm um design mais convencional, com jeito de que tem algo quente ali dentro. O copo da Stanley possui um visual mais moderno e multiuso.
VALE A PENA? Após algumas horas, as diferenças para o copo de vidro e a caneca beiraram os 20ºC, principalmente quando colocando gelo nas bebidas. Ou seja, foram gritantes.
É preciso considerar o que vai ser servido. Se for bebida com gás, não há vantagem em mantê-la por 3, 4 horas gelada no copo porque o gás acaba. É o caso da cerveja, que fez a fama desses modelos térmicos.
Os fabricantes dizem que seus copos térmicos deixam a bebida gelada por horas e horas. A Coleman fala que são 4h, a Kouda, por 6h e a Stanley, 4,5h. Também são valores de referência, como o do motor de um carro: pode ter até tal potência, mas não necessariamente você vai usar tudo que ele oferece.
SEM SUOR: outra vantagem de todos os copos térmicos testados é que, por terem uma camada dupla de aço em sua estrutura, não ficam suados como copos de vidro.
Isso ocorre por conta da troca de calor do vidro com o ambiente. Vieira faz um paralelo com o mundo do churrasco: “Ao colocar no fogo, a carne pode parecer torrada por fora, mas está mais crua por dentro. É assim que vemos que o calor não se conduziu até o centro”, diz o professor Marcelo Fernandes Vieira, da Universidade Estadual de Maringá.
Falando em churrasco, colocar um copo térmico perto da churrasqueira também não vai esquentar a bebida, para alegria do cozinheiro.
PARA QUE COPO MENOR? Apesar de os copos térmicos — assim como as garrafas térmicas — servirem para manter bebidas geladas ou quentes, os menores são indicados também para uso com bebidas frias, como vinho, caipirinha e uísque.
Em um teste à parte, com uísque, o gelo derreteu menos do que num copo de vidro – mas o suficiente para reagir com o líquido – e, depois de um tempo, a bebida ficou muito gelada (e forte).
SUPERFRIO: Com nove pedras de gelo em cada copo térmico grande, com água e refrigerante gelados, a temperatura baixou drasticamente, comparando a primeira medição com as demais.
Isso ocorre porque bebida e copo chegaram a um equilíbrio térmico e não estão perdendo calor para o ambiente. E ficaram até mais gelados conforme o tempo, para depois retomar a esquentar.
Exemplo do Kouda Don: começou com 0,4°C com refrigerante, foi para -1,2°C nas duas primeiras medições e terminou com -1,1°C. O mesmo fenômeno foi observado nos copos da Stanley e da Coleman.
A ciência explica
POR QUE FICA GELADO (OU QUENTE) POR MAIS TEMPO ? Os copos térmicos são construídos com duas camadas – uma interna e outra externa – produzidas em aço inoxidável. Durante a produção, uma máquina extrai o ar entre essas duas camadas, gerando um vácuo.
“O vácuo é o diferencial desses copos”, explica Marcelo Fernandes Vieira, professor de fenômenos de transporte no departamento de engenharia química da Universidade Estadual de Maringá.
“O princípio é o mesmo da garrafa térmica: tem um copo dentro de outro e algo entre eles que impede a troca de calor com o ambiente”, afirma o professor, que ajudou a validar a metodologia dos testes.
De qualquer forma, ainda existe uma troca de calor com o ambiente pelas tampas, feitas em plástico. O da Coleman e da Kouda até têm uma lingueta que fecha a tampa, mas no da Stanley o líquido fica um pouco exposto.
O tipo de aço usado no copo térmico também influencia, mas não muito, no resultado. As três marcas avaliadas usam o aço 18/8, comum em produtos de uso doméstico.
É CARO PORQUE…: Além de desfrutar da fama, o processo de fabricação entra na conta, segundo as empresas. O maquinário para produção da câmara de vácuo nos copos é inexistente no Brasil e todos os modelos são importados. “Ninguém tem esse tipo de máquina por aqui”, diz Yuri Lima, diretor da Kouda.
“Além do aço, tecnologias de ponta em solda garantem maior longevidade ao copo”, completa Pedro Ipanema, vice-presidente da Stanley PMI.
Circunstâncias atuais também são citadas. “Lidamos ainda com a questão tributária no Brasil, que é muito alta para esse tipo de produto e, hoje, temos com uma crise no transporte marítimo, com falta de containers e frete mais caro. E o vácuo é caro de produzir”, finaliza João Fabiano Balbino, diretor de vendas da Coleman.
Como foram feitos os testes
Os copos térmicos foram enviados por empréstimo pelos fabricantes e serão devolvidos. Os grandes têm capacidade de 473 ml (Stanley), 500 ml (Kouda) e 600 ml (Coleman), respectivamente.
As canecas tinham 414 ml (Contigo), 370 ml (Kouda) e 296 ml (Stanley).
Um copo de vidro de 350 ml e uma caneca de cerâmica de 300 ml serviram como controle para comparação com recipientes comuns, conforme orientação do professor Marcelo Fernandes Vieira, da Universidade de Maringá.
Antes da realização dos testes frios, os três copos ficaram cinco minutos com água gelada, que foi descartada. Essa é uma recomendação geral dos fabricantes, mas que não precisa ser seguida à risca pelo consumidor.
Os copos térmicos e a unidade de controle foram preenchidos com a mesma quantidade de líquidos: cerveja gelada, refrigerante com pedras de gelo e água natural também com pedras de gelo.
Os testes foram simultâneos para os três copos térmicos de cada categoria e o copo/caneca de controle.
A temperatura de cada copo grande foi medida de hora em hora, por três horas, com um termômetro culinário digital do tipo espeto.
Para as canecas e copo para líquidos quentes, o processo foi repetido com chá com água fervida na hora, leite fervido e café coado na hora, por duas horas.
E fazer café ou chá em casa é diferente de pedir um drink quente em uma cafeteria. Entre ferver a água, passar o café e servir, a temperatura do líquido já caiu bastante.
Nos dias das avaliações, na penúltima e última semanas de janeiro, a temperatura local variou de 25°C a 31°C na cozinha transformada em bancada de testes.