Palmas – Hoje em dia, nenhum assunto é tão complexo ou delicado que não possa virar pauta na mão (especificamente nos dedos que digitam nas telas) de pessoas das mais diversas. A Internet permitiu aquilo que chamamos de acesso democrático, onde todos têm voz para opinar e pior: encontrar adesão e seguidores. Nesse sentido, o que vale mais? Um bom argumento, sustentado por profundo conhecimento de causa ou experiência? Não! Na Internet, quem tiver mais frases de efeito, seguidores, capacidade de engajamento de massa, define o que é verdade e o que não é.
Com isto já surgiu muita coisa esdrúxula e discussões que nos fazem questionar se realmente estamos vivendo no século 21 ou em algum lugar entre os séculos 12 e 13. Discussões sobre eficácia de medicamentos, o formato da terra e sociedades secretas controlando o mundo, são só algumas das pautas debatidas com veemência em fóruns e comentários. Nesse sentido, vale o questionamento: o quão benéfico foi essa democratização digital? Existem planos de contingência para diminuir esses problemas de ordem social?
A democratização digital é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, ela trouxe liberdade de expressão e acesso à informação, por outro, ela também facilitou a propagação de desinformação e a polarização. O caminho para maximizar os benefícios e minimizar os danos passa pela educação, regulação responsável e a promoção de uma cultura de pensamento crítico e diálogo. É um desafio coletivo que demanda a participação ativa de governos, empresas, educadores e cidadãos.
A democratização digital tem tanto potencial para o bem quanto para o mal. O desafio é encontrar um equilíbrio que maximize os benefícios enquanto minimiza os impactos negativos. Isso exige um esforço conjunto e contínuo de todos os setores da sociedade para promover uma cultura de responsabilidade, alfabetização midiática e compromisso com a verdade. É preciso uma reeducação direcionada à utilização de redes sociais e como exercer com responsabilidade o direito de expor suas opiniões e ideias, a fim de que um discurso que existe apenas no campo dos argumentos, não se torne um problema real, atingindo e prejudicando pessoas.
É preciso ser corajoso para, ao mesmo tempo confrontar ideias que não parecem coerentes, mas também não tornar maus exemplos padrões de comportamentos aceitáveis, como acontece hoje em diversos ambientes sociais, onde pessoas motivadas por ideais e argumentos que leem na internet atacam pessoas e entidades de forma violenta e sem qualquer senso de responsabilidade. A própria cultura do cancelamento acabou se tornando uma forma de ataque indireto que causa prejuízos às pessoas com apenas um compartilhamento.
Wesley Santos
Professor, escritor e pesquisador.