Brasil – Após 24 anos em coma em um hospital de Vitória, uma paciente conhecida apenas como Clarinha foi sepultada nesta terça-feira (14). Sem identificação desde sua internação em 2000, ela tornou-se uma figura emblemática entre os funcionários do hospital e da comunidade médica.
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“Terminar esse capítulo permite que o espírito dela descanse de forma digna. Embora o ciclo se feche, sua história continua aberta”, refletiu o tenente-coronel Jorge Potratz, médico que acompanhou Clarinha ao longo de sua internação.
Cerimônia de sepultamento e homenagens
O sepultamento ocorreu no Cemitério Municipal de Maruípe, com início às 13h45, mas desde cedo, colegas de trabalho e ex-funcionários se reuniram para prestar suas últimas homenagens.
A cerimônia foi marcada por momentos de profundo respeito e carinho, destacando-se a presença de coroas de flores e uma emocionante leitura de poema por uma ex-funcionária da enfermagem.
Potratz, emocionado, afirmou: “Procurei a vida inteira pela família dela e hoje concluo que nós éramos sua família”. A lápide de Clarinha será simples, contendo seu nome, uma fotografia e um versículo bíblico a ser escolhido.
Paciente morreu há 2 meses
Clarinha morreu no dia 14 de março, ao passar mal após uma broncoaspiração. Desde o dia da morte, o corpo ficou no Departamento Médico Legal (DML) da capital, aguardando o resultado de exames de compatibilidade de possíveis familiares que buscaram a polícia, mas todos deram negativo.
Com autorização da Justiça, foi feito um registro civil, que possibilitou a confecção de uma certidão de óbito e a garantia que a Clarinha não fosse enterrada como indigente.
A certidão ficou com lacunas já previstas, como, por exemplo, os campos de preenchimento de sobrenome e nome dos pais. Já a cidade de origem foi considerada Vitória, local onde ela passou a maior parte da vida, ainda que internada no HPM.
Tentativas de identificação da família
Doze testes foram feitos pela Polícia Científica do Espírito Santo após a morte de Clarinha, sendo oito comparações por digitais e quatro exames de DNA.
Entretanto, ao longo dos 24 anos em que estava internada, mais de cem exames de DNA foram realizados, todos também com resultado negativo. O pico de procura de famílias aconteceu em 2016, após uma reportagem sobre a história de Clarinha ser exibida no Fantástico e o caso ganhar repercussão nacional.
A tentativa que mais se aproximou de uma compatibilidade aconteceu em 2021, quando uma equipe de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública usou um processo de comparação facial e fez buscas em bancos de dados de pessoas desaparecidas com características físicas semelhantes às da mulher.
A suspeita é que ela seria uma criança desaparecida em 1976 em Guarapari, que esteve na cidade para uma viagem com a família de Minas Gerais, mas a possibilidade foi descartada. Assim como o caso de Clarinha, esse também nunca foi solucionado.
Vale lembrar que peritos capixabas realizaram um procedimento pós-morte que permitiu o levantamento de digitais completas para realização de exames, o que agilizou os últimos testes realizados.