Quem nunca esteve dando aquela olhada nos stories de alguém e encontrou um post ou frase claramente direcionada, do tipo: “Cansei de certos tipos de pessoas que…”? Na verdade, as redes sociais, especialmente o X (antigo Twitter) e o Instagram, tornaram-se verdadeiros diários digitais, onde muitos escrevem o que não teriam coragem de dizer pessoalmente. São indiretas para o colega de trabalho, o ex, ou até mesmo desabafos engasgados após uma conversa tensa.
Entretanto, esse fenômeno ainda não foi analisado o suficiente, tornando difícil compreender seus impactos e como lidar com essa nova forma de comunicação. Quando alguém decide expor seus sentimentos ou ressentimentos por meio de um post motivacional ou de reflexão, mas que, no fundo, é apenas uma indireta, acaba revelando mais sobre si do que efetivamente atingindo o alvo pretendido.
Psicólogos do Vale do Silício analisam uma tendência crescente, impulsionada pelas redes sociais: a infantilização da comunicação adulta. Muitas pessoas, em vez de resolverem suas diferenças através do diálogo, optam por provocações indiretas, característica comum na adolescência. Essa exposição constante de fragilidades e inseguranças pode parecer uma forma eficaz de comunicação, mas, na maioria das vezes, o efeito é contrário ao esperado.
Não é à toa que empresas estão cada vez mais analisando o comportamento de seus colaboradores e candidatos por meio das redes sociais. Especialistas da área jurídica e trabalhista apontam que, nos últimos quatro anos, diversas causas e processos foram movidos com base em publicações feitas em redes sociais, que são consideradas ambientes públicos e, portanto, passíveis de questionamento legal.
Diante desse cenário, o bom senso deve prevalecer. Optar pelo diálogo presencial ainda é a melhor alternativa para resolver divergências. Além disso, buscar terapia para controle da impulsividade e conversar com pessoas maduras e experientes pode ser uma estratégia eficaz para evitar conflitos desnecessários e construir relações mais saudáveis.
Antes de compartilhar um desabafo ou uma indireta nas redes sociais, vale a pena se perguntar: o que eu ganho com isso? Será que estou apenas alimentando um ciclo de ressentimentos e conflitos? A superexposição pode trazer consequências inesperadas, tanto na vida pessoal quanto profissional. Por isso, pensar antes de postar é essencial. Algumas questões são melhor resolvidas fora das telas, no silêncio da reflexão ou no diálogo sincero com as pessoas envolvidas. Afinal, nossa privacidade e paz de espírito valem mais do que qualquer curtida ou compartilhamento.
Wesley Santos
Professor, pesquisador e escritor