Imagine descobrir que seus ancestrais eram indígenas e quilombolas após conseguir um diploma de ensino superior sem ter recebido benefícios de bolsas ou cotas? Essa é a história do pedagogo Joaquim Melo, de 39 anos, natural de Chapada da Natividade, no Tocantins. Ele possui duas formações acadêmicas e um histórico profissional que daria orgulho aos ancestrais que ele recentemente descobriu ter.
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Joaquim é o único da linhagem familiar, tanto materna quanto paterna, a se formar. Estudou na zona rural, mas se mudou para Natividade e depois para Goiânia, em busca de oportunidades para crescer profissionalmente. Lá ele se formou em Administração de Empresas, mas, ele sentia que sua paixão mesmo era a educação.
Após pegar o primeiro diploma, Joaquim se tornou assistente na faculdade Padrão em Goiânia-GO, e com o tempo se tornou coordenador geral, ficando no cargo por três anos e após isso, diretor-geral por cinco anos. Retornando ao Tocantins após sua Jornada goiana, ele se tornou secretário de educação em Natividade, durante a gestão da ex-prefeita Martinha Rodrigues.
Ele iniciou então o curso de Pedagogia pela Faculdade São Marcos de Porto Nacional, conseguindo então o seu segundo diploma no ano de 2022. Joaquim também fez pós-graduação em Gestão de Pessoas e Estratégia em Marketing, e se tornou o diretor do único colégio quilombola urbano do Estado, o Colégio Estadual Fulgêncio Nunes, em Chapada da Natividade. Após a conquista iniciou o segundo mestrado pela PUC de Goiás.
Busca pela ancestralidade
Em seu convívio familiar, Joaquim escutou algumas histórias sobre uma avó que não conhecia, mas foi a morte de seu bisavô que lhe fez iniciar uma busca por seus antepassados. “Eu tive interesse quando fiquei sabendo que o meu bisavô morreu aos 115 anos no mato grosso na cidade de Porto Alegre”. Conforme um tio, seu bisavô e sua avó eram indígenas e poderiam ter se relacionado com seus familiares quilombolas, que ele já sabia da existência. Relação essa que lhe daria a vida e consequentemente suas raízes nas duas etnias.
O pedagogo é o terceiro de sete irmãos, filho de seu Joaquim e dona Davina. Ele buscou se regularizar e teve o apoio de sua tia Geralda Xerente. Em sua busca empenhada por seu histórico familiar, Joaquim percebeu ainda mais as dores e dificuldades do povo quilombola e indígena, o levando a buscar a identidade originária do seu povo à instituição de ensino na qual ele atua nos dias de hoje.
Tive muito apoio sim mas também tive não mas o meu tio Justino sempre mostrou o lado família em me reconhecer e o que me encantou, foi que no dia do reconhecimento, tia Geralda de 85 anos esteve presente isso é muito gratificante”,
afirma Joaquim.
O reconhecimento de descendência é feito através de testes de DNA que comparam as sequências genéticas de um indivíduo com as de seus possíveis parentes biológicos. Esses testes são capazes de determinar se há ou não uma relação biológica entre duas pessoas.
Rompendo barreiras
Hoje, com duas formações, um mestrado concluído e outro em andamento, Joaquim segue cativando as instituições por onde passa. Ele buscou valorizar as duas etnias ao estudar sua descendência, dando destaque a cultura dos seus antepassados e utilizando de suas histórias para marcar sua trajetória profissional e pessoal:
“Hoje sou graduado em administrador de empresas, Pedagogia, e pós-graduado em gestão de pessoas e marketing, e já com o mestrado em andamento. Toda essa conquista agradeço primeiramente a Deus, minha família e meus amigos. Sou filho de pessoas humildes, mas não deixei de lado essa vontade de estudar pois é meu sonho desde criança e não vou parar não, com fé em Deus ainda terei muita história […] Digo mais, Deus sempre foi e será o meu protetor. Gratidão a tudo”,
finalizou.