O conceito de Livre-arbítrio foi emprestado da teologia, como sendo a plena capacidade de escolha que em tese todas as pessoas teriam a respeito de si mesmas, entretanto é uma questão bem problemática pensar a respeito do assunto, uma vez que vivemos em um mundo com tantas desigualdades de oportunidades e acesso a todas as pessoas. Podemos dizer que uma pessoa que nasceu em um “berço de ouro”, com uma herança familiar milionária garantida, vive com certos benefícios por causa de seu livre arbítrio?
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Por outro lado, a maioria dos brasileiros que ainda vivem em miséria, tendo que trabalhar incessantemente para levar o pão de cada dia à sua mesa, às custas de sua força, determinação e saúde, também não parece ter tido algum livre arbítrio na escolha dessa realidade. A teologia diz que o livre-arbítrio é uma dádiva de escolha dada por Deus, de procedermos de maneira justa ou injusta, entretanto, as escolhas que as pessoas fazem são baseadas mais em sua realidade e caráter, do que uma escolha feita através de profunda reflexão sobre justiça. Existe outra corrente teológica que desacredita que haja o tal livre-arbítrio, os chamados Calvinistas, acreditam na predestinação e soberania de Deus, dessa forma, muitas situações que vivemos em nossas vidas (boas e ruins) são em parte consequência de nosso “arbítrio” (responsabilidade), mas também o que seria a vontade de Deus.
Dessa forma, conseguimos compreender de maneira mais plausível porque há tantas injustiças no mundo, faz sentido percebermos que nossas decisões influenciam bastante em nossa realidade, mas não influencia toda ela, você não teve escolha de onde ou quando nascer, nem de qual sexo seria. Não escolheu nascer filho de pais humildes e trabalhadores ao invés de uma família dona de um complexo de empresas e bens financeiros. Não escolheu se iria nascer com intolerância a lactose ou alergia a picada de abelha, percebe? Podemos escolher a roupa que usamos, o jeito que penteados o cabelo ou qual para qual time torcer, mas existem diversas coisas que não tem a ver com escolhas.
As injustiças presentes no mundo podem ser compreendidas, em parte, considerando-se tanto as escolhas individuais quanto as circunstâncias que estão além do controle das pessoas. Embora nossas decisões possam influenciar nossa realidade, elas não são o único fator determinante. Aspectos como origem socioeconômica, condições de saúde e outros fatores externos também desempenham um papel significativo em nossas vidas.
A discussão sobre o livre-arbítrio nos convida a refletir não apenas sobre a natureza das escolhas individuais, mas também sobre as estruturas sociais e as forças que moldam nossas vidas de maneiras que estão além de nossa capacidade de controle direto. Portanto, enquanto algumas áreas de nossas vidas podem ser influenciadas por nossas escolhas individuais, há muitos aspectos que são determinados por fatores externos e que não estão sujeitos ao livre-arbítrio. Reconhecer essa distinção é importante para uma compreensão mais completa da complexidade da condição humana e das questões de justiça social e ética.