Desde as últimas semanas, dentre as polêmicas que continuam em alta, está a canção da paraense Aymeê Rocha, “Evangelho de Fariseus” que além de ser uma composição de muita qualidade, bem ao estilo MPB, também denuncia diversas situações que acontecem no meio religioso e social. Os tais fariseus, que são uma alegoria aos líderes religiosos de hoje, foram uma seita judaica que emergiu em 150 a.C. e promoveu a ideia de pureza sacerdotal para todos os judeus, a crença na providência ou destino, e o conceito da ressurreição dos mortos. O motivo pelo qual são utilizados na metáfora de Aymeê, se dá porque frequentemente estes religiosos confrontavam Jesus, provando a sua legitimidade.
- Publicidades -
Todavia, a comparação entre os líderes religiosos de hoje e os fariseus do período inicial do cristianismo nem de longe foi a única “treta” que a bela canção da menina trouxe, pois retornou à pauta a questão dos povos que vivem em regiões mais afastadas dos grandes centros, que muitas vezes passam por situações de total abandono, por parte dos governos, como aqueles que vivem em Marajó. Dentre os problemas vivenciados estão exploração infantil, violência e abuso, que rapidamente se tornou manchete de diversos jornais pelo país.
Como todas as pautas polêmicas e situações desse tipo, as torcidas organizadas dos espectros políticos (direita e esquerda) iniciaram a velha valsa de “dois pra lá, dois pra cá”, acusando uns aos outros da responsabilidade pela situação denunciada, com pitadas de negacionismo e teorias da conspiração (é claro). O mais importante, entretanto, ainda não se enxerga nisso tudo: Alguém está tentando resolver??
Sabemos que as redes sociais adoram uma problematização, para ocupar seu dia e a sessão de comentários, com opiniões de especialistas em todas as áreas sociais e políticas, mas o que realmente gostaríamos de ver são as providências para parar o sofrimento das famílias, isto é mais difícil. Dessa forma ou podemos interpretar que não há medidas sendo tomadas ou as medidas não estão sendo amplamente divulgadas, o que é uma pena, porque melhor do que denunciar uma injustiça acontecendo é apresentar as soluções em ação para reparar os danos.
Além disso, a sociedade civil, organizações não governamentais e o setor privado também têm um papel importante a desempenhar no apoio e na implementação de iniciativas voltadas para o desenvolvimento dessas regiões e o bem-estar de seus habitantes.
Não adianta cada problema descoberto ser levado à pauta social, para se tornar mais um ringue de embates e imposição de culpas, enquanto isso no Marajó, as crianças ainda estão esperando a atenção que, pela Constituição Federal, elas têm direito a receber. É crucial que haja uma colaboração efetiva entre todos os setores da sociedade para enfrentar esses desafios de maneira abrangente e eficaz. Enquanto as discussões continuam, as crianças e famílias nessas comunidades não podem esperar mais. A ação é urgente e necessária.
Wesley Santos
Professor e Pesquisador